A GREVE DO LIXO

( ou a fantástica estória da mulher que transformou lixo em dinheiro)

Sofia nunca havia se interessado por reciclagem antes, achava uma perda de tempo. Toda essa estória de preservação do meio ambiente, para ela, não passava de uma grande bobagem. Pagava os seus impostos e era mais que justo que gastasse a água quente que quisesse em seus banhos, deixasse a torneira aberta enquanto escovava seus dentes ou lavava os seus pratos e talheres. Separar o lixo que ela produzia, era um luxo para alguém que corria contra o tempo; alta executiva de uma empresa financeira, Sofia estava sempre em eterna correria; por isso nem empregada tinha, pois não queria se preocupar com nada a mais que o seu trabalho. Além disso, acreditava que era justamente o lixo que ela criava que dava emprego a tantos garis e pessoas empregadas nessas centenas de empresas de coleta de lixo em São Paulo.

Porém, certo dia, os lixeiros não vieram e os sacos começaram a se acumular á sua porta. Uma semana depois, para piorar a situação, o rádio anunciou que a greve das empresas de coleta continuaria. Ela entrou em pânico: onde jogaria tanto lixo que estava empilhado em sacos na cozinha? Ela não separava os restos de comida das latas, os plásticos dos jornais velhos e revistas folheadas; tudo ia para o mesmo saco de lixo. Para ela, era obrigação dos lixeiros cuidarem do resto.

Com o odor ficando cada vez mais insuportável, Sofia pensou até em pagar alguém para remover aqueles sacos, mas na mesma semana da greve do lixo, ela foi mandada embora do banco em que trabalhava.

Deprimida pelo desemprego, pelas dividas que chegavam e incomodada com tanto lixo parado; ela começou a perceber que se tivesse separado a comida do vidro, o papel do plástico, não teria tanto lixo acumulado; afinal, volta e meia, passava um catador de papelão e latinhas pela porta da sua residência.

Entre a busca de um emprego e outro; ela começou a pesquisar sobre reciclagem. Em principio por não ter mais nada a fazer, depois com uma crescente curiosidade; e percebeu que isso poderia ser uma boa fonte de negócios. Aprendeu que vidros poderiam ser transformados em potes de alimento, garrafas; que os papéis poderiam ser reutilizados para a impressão de novos jornais, revistas, caixas de papelão, embalagens; que o metal poderia ser usa dopara latas, tubos de pastas; e o uso para o plástico era quase infinito: potes, garrafas, sacos, embalagens, sacolas, entre outros tantos utensílios. Até o lixo perecível poderia ser reutilizado e virar adubo.

Para Sofia foi a descoberta do segredo da vida. Com os olhos de alguém que sempre busca oportunidade de negócios, ela enxergou que a reciclagem poderia transformá-la em uma alquimista do lixo, ensinando empresas a transformar desperdício em negócios. Bastou uma rápida pesquisa, para ela descobrir que as grandes empresas poderiam economizar muito dinheiro se ensinasse seus funcionários a reciclar.

Reciclar era o novo filão no mundo empresarial, que ainda não tinha tido a devida atenção no Brasil, mas ela agora estava disposta a mudar essa situação.

- Vocês sabiam que 50 quilos de papel reciclado evitam que se corte uma árvore? – perguntou ela, em sua primeira palestra em uma empresa em São Paulo – E que 76% do lixo no Brasil é lançado a céu aberto? E que a sua empresa pode economizar milhões, se cada funcionário, dos altos executivos ao porteiro, souber reciclar?

Entre outros dados alarmantes, Sofia leva atualmente suas idéias de reciclagem para várias empresas, contando a estória da mulher que passou de plantadora de lixo á semeadora de reciclagem.