O Lendário da Ferrari Amarela
Eu, que ainda não vi de tudo mas que de tudo quase vivi, lembrei-me de mais este:
Falso Super-herói
Quando criança, sempre fui um menino do jeito levado e que não largava do meu pai nem se quer na hora de ir para o trabalho. Ele, foi por toda a vida, um dedicado motorista - um sabe tudo daquela cidade - eu e meu pai, sempre andávamos juntos e passávamos todos os dias pela Higienopolis, um cruzamento de ligação importante entre os bairros Vila Nova Conceição e Jabaquara, na Zona Sul de São Paulo (próximo de onde caiu um Fokker 100 da Tam em 03 de novembro de 1996), que acabou vitimando 105 pessoas e, naquele exato instante, passara sobre nós enquanto tomávamos um café em uma padaria próxima. Que por muita sorte divina, acabou caindo à cerca de 100 metros dali - e acreditem - levara uma vida, mas não há como esquecer o som característico das turbinas do avião se aproximando e sinalizando que algo não estava nada bem, e que de tão próximo se ouvia, causava a impressão como se o avião estivesse caindo exatamente em nossa direção - Pensei, hoje é meu último dia - foi o que deu pra pensar senão em mais nada. Segundos após, uma explosão atroante e, em seguida, um silêncio medonho; olhares frustados cruzanvam-se entre rostos estranhos e sem esboçar nenhuma reação, simplesmenete, todos ficamos paralisado. Depois de alguns instantes, um ligeiro suspirar aliviado e um cenário entristecedor, pois sabíamos de que tamanha tragédia ninguém escaparia com vida, tanto que ninguém escapou.
O fato é, que o lendário, despertava atenção por ali, "pousava como um galã enlaçado na própria vaidade e irretocável em sua vestimenta impecável e de fino trato" sempre, no mesmo cruzamento, despertando a atenção de muitos populares que ali passavam - chego até suspeitar - que o próprio, possívelmente, tenha sido o precursor do bordão que, posteriormente, ganharia força popular envolvendo sempre as mesmas característica de cor amarela, como os Mamonas assassinas, por exemplo, que apostaram na famosa Brasilia amarela, marca que os consagrou e os transformou em febre Nacional e, consequentemente, tantos outros surgiriam depois.
Mas ele, o lendário, já existia há muito mais tempo que a era dos Mamonas assassinas. E de tanto ver aquela figura estampada todos os dias sempre no mesmo local, acabou que impactanto significativamente como um personagem na minha adolescência.
- E eu gostava dele, pois despertava minha curiosidade desde então.
Até que um certo dia - encucado com o mesmo - perguntei ao meu Pai:
Quem será e o que quer este sujeito, afinal?
- Meu pai, disse se tratar de um desocupado se passando por um milionário falsário e nada mais que isso.
- Mas eu não!
Eu ainda acreditava que ele era o cara ou alguém genial; majestoso, de causar recepção grandiosa como o de um herói. Não só à mim, mas também se tornou um ponto de interrogação imponente para muitos daquela época, já que muito pouco sabia à respeito do lendário e misterioso homem, desconhecido até então.
Hoje, após 15 anos, finalmente acabei descobrindo que a verdadeira identidade daquele personagem nunca fora "quase ninguém" ou quase um herói senão um pobre herdeiro cujo a crise o apertou com o tempo. Crise esta, que ele próprio se deixou implicar por passar todos esses anos apenas pousando para fotos ao lado de populares num falso carro de cor amarelo. Sobretudo, e não menos decepcionante, foi o fato de saber que meu personagem sempre fora inteiro falso, cujo desapontamento ainda maior, me causara outra desilusão: o de aceitar que "eu" estive errado esse tempo todo, senão meu pai com toda a razão.
Atualmente, ele é avistado andando a pé pelas estações de metrô, em São Paulo, como mostra a coluna biográfica publicada na Folha de São Paulo.
Aqui, fixo e deixo apenas minha singela homenagem diante deste que entra como mais novo íconi, que bom ou ruim, conseguiu alçar seu objetivo para qual tanto lutou, e que agora, finalmente pode desfrutar o devido reconhecimento e coroar seu espaço como sendo o mais novo lendário contemporâneo a entrar para história."
- Mais que uma lenda, um lendário, que ainda vive."
Dono de falsa Ferrari amarela agora anda a pé em São Paulo. João Lara Nunes, que se transformou numa figura lendária da cidade de São Paulo por estacionar sua ferrari falsa e ficar se exibindo com ela. Registros a contar do meu, estimam que ele viveu desta forma por cerca de 25 anos.
Fonte: Jornal Folha de São Paulo.
Adaptação: Fato verídico e vivenciado por (VanTófilli)