CÉU E INFERNO - PEDRAS NO CAMINHO
Os dias passam com a rapidez do vento, levando em suas asas o que temos de melhor (ou pior). A vida é intercalada por períodos de céu e inferno. Há pedras no caminho. Temos que retirá-las ou nos desviarmos para não desabarmos diante de acontecimentos alheios a nossa vontade. Mas nem sempre a gente consegue. Fazemos tempestade em copo d’água, nadamos contra as marés bravias, quando o melhor seria tratarmos certas coisas com a devida desimportância que elas merecem. Estressar-se, p’ra quê?
Acontece que nesses dias, em que o céu descansa e aflora em nossas veias o inferno, há que se tomar muito cuidado com o que se diz a alguém, que pode ser entendido como vento brando ou furacão. Pessoas vivem em constante mudança de humor, transformando-se, em segundos, em mocinhos ou vilões. Ah, e como são elevados à condição de heróis os vilões de toda história. Haja vista os personagens dos folhetins, seja nos romances literários, novelas ou mesmo na vida real. Todos adoram um vilão!
Eu nunca gostei de ser o vilão de história alguma, especialmente no tocante a um embate, simples ou conturbado. Mas nem sempre a gente agrada a todos, em todos os momentos. Pedir desculpas, por exemplo, muitas vezes o torna fraco, diante dos olhos de muitos, quando, na verdade, o desculpar-se é um ato corajoso. Pedir perdão enobrece (pelo menos em minha modesta compreensão dos fatos).
Dias amanhecem em que as coisas não caminham como a gente espera. É o marido que chega em casa bêbado, criando desentendimentos; irmãos que não estão bem de saúde ou de finanças e recorrem a você, que é a única pessoa que pode socorrê-los; é o animalzinho de estimação que ficou doente e isso te chateou sobremaneira, porque você ama e trata bem os seus “filhos”... São tantas interferências reais para enegrecer o seu dia que você já não suporta qualquer pedrinha que altere a sua caminhada..
Então, no primeiro momento você pensa: “que se dane, vou explicar nada, não preciso dar satisfações a ninguém de meus atos”. Este é o Diabo falando dentro de você. Mas, logo em seguida, apoiada pelo seu caráter insuspeito, pela dignidade que sempre fez questão de manter, você ouve o seu Anjo. E tenta explicar uma atitude impensada, levada, talvez, pelo momento de introspecção em que procura fugir dos fatos que lhe tiram do prumo. Talvez (por que não?) você faz uma afirmação de certo modo leviana, porque não teve o devido cuidado de checar antes a veracidade daquilo que vai dizer (ou escrever). E isso pesa para outros. Pesa muito!
Tanto que você, muitas vezes, é questionado a respeito e, naquele instante, o que lhe abraça é a surpresa; você não sabe o que responder, não estava preparado para algo assim. O que nos resta? Voltar ao início de tudo, comparar os prós e os contras do que você disse e, se não houver, nada mais que se possa fazer você, naturalmente (isto se é uma pessoa do bem e nada teme), pede desculpas. Não há atitude mais digna e correta. Este é o caminho.
Hoje, não me vejo poeta, pois não consigo fazer poesia às pedras, apenas tento retirá-las de meu caminho para que eu possa seguir em frente. Sem tropeços, dissabores e mal entendidos (que eu não gosto de enfrentar). Sou assim. Nada posso fazer para mudar.
Já perdi a validade e não posso mais requerer uma revisão de minha personalidade. A idade chega, a gente não é mais adolescente e adquiriu a capacidade de analisar os fatos com outro olhar. O da realidade. O que pode ou não ferir as pessoas com palavras ou atos. E você sabe se conter na medida do possível. Porque você é humano e, como tal, a perfeição é algo impossível de ser alcançada. Nem mesmo gostaria de buscá-la.
“Retiro as pedras do caminho
para poder seguir em frente...
Prefiro a paz ao burburinho
E ser com todos, complacente!”
(Milla Pereira)
para poder seguir em frente...
Prefiro a paz ao burburinho
E ser com todos, complacente!”
(Milla Pereira)
Este texto faz parte do EC
POESIA PARA UMA PEDRA
Para saber mais, acesse:
http://encantodasletras.50webs.com/poesiaparaumapedra.htm