MEDO
                                Veja uma zona rural montanhosa, casas bem distantes uma da outra e um menino de sete anos com a obrigação de sair e pousar na casa da avó para trazer leite na manhã seguinte; a sua pequena viagem acontecia sempre à tarde, depois de árduo trabalho no sítio. Numa dessas tardes, seguindo por uma única estrada de terra batida, cavada e quase sinistra, avistou, ao longe, um cavaleiro vestido de preto vindo na sua direção; seu corpo teve um arrepio e esfriou-se. A uns cinco metros, existia uma ponte de madeira dando passagem sobre um pequeno córrego. Não posso voltar correndo, o cavalo corre mais do que eu. Pensou. Esgueirou-se e entrou debaixo da ponte. Em pé, encostado nas pedras de sustentação, ficou aguardando. Seu coração parecia haver saído do peito e parado no pescoço, próximo à garganta. Alguns longos minutos depois, o som grave das patas do cavalo espalhando pedregulhos aproximou-se. De repente, o ritmo da marcha do animal tornou-se irregular e parou. O barulho do coração acelerado parecia sair e chegar ao ouvido do cavaleiro. O caçador pode estar esperando a caça sair do buraco — eu! Pensou sentindo algo quente nas pernas, tinha urinado na calça. Sob o grosso madeiramento e olhar assustado passeando nas gretas, os minutos foram sendo galgados com seguidos calafrios. O silêncio na estrada deserta era marcado pelo sussurro manso da água seguindo seu destino no córrego. Como luz de vela apagando-se, o dia começou a perder a claridade para as sombras. O menino com a calça molhada moveu-se e, fazendo a cabeça ir à frente do corpo, olhou para estrada; trouxe um pouco mais o corpo — não havia ninguém. Voltou correndo para a casa e contou tudo com detalhe. Ninguém acreditou. Na tarde seguinte teve de ir pela mesma estrada...


Livros: Mensagens Para Você e São Tomé das Letras e o Pacifista
Silva Lemos
Enviado por Silva Lemos em 22/07/2013
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