POR QUE AS MULHERES ESTÃO BEBENDO TANTO?
"Antigamente as mulheres cozinhavam igual à mãe; hoje bebem igual ao pai".
Esta frase eu recebi por email de um amigo meu e me levou a pensar. Busquei informações na Internet, usei as lembranças de terapias que fiz com especialistas à época em que me tratava, lutando contra o alcoolismo, e resolvi escrever mais uma crônica sobre o assunto, na tentativa de contribuir e alertar as mulheres que estão passando, hoje, o que eu passei num passado recente.
Com a liberação feminina, as mulheres adquiriram não só direitos sócio-econômicos como o homem, mas também hábitos e vícios que eram, antigamente, quase que exclusividade masculina, A independência financeira, disponibilizando o aumento da renda própria, com certeza é o fator que mais contribuiu para isso, porque quebrou barreiras e tabus. No passado, uma mulher entrar sozinha num bar, num clube, numa boate era algo inimaginável. Hoje, as mulheres não só adentram em qualquer ambiente noturno desacompanhadas, como, tranquilamente, sentam num bar e bebem uma cerveja, um whisky. No começo é um final de tarde para desestressar, para aliviar as tensões de um dia de trabalho. Para muitas nunca vai passar disso. Mas, para outras, vira um hábito que vai aumentando as doses, torna-se uma necessidade e daí para a dependência é um passo.
Segundo o Ministério da Saúde, a porcentagem de mulheres que ingerem grandes quantidades de álcool tem aumentado pelo menos duas vezes mais rápido que entre os homens. Isso se deve, em parte, pela profissão, onde a mulher, normalmente, tem que mostrar que é capaz como o homem e, aliado a isso, muitas ainda têm as obrigações da casa e a educação dos filhos. Para o psiquiatra da USP, Arthur Guerra, tamanha carga de responsabilidades e cobranças pode levar à busca por uma válvula de escape: o álcool. Conclusão: muitas veem no álcool um antídoto para o cansaço, a angústia e a frustração. Mas eu, que por vinte anos busquei essa válvula de escape, sei que aquilo que começa com uma dose para relaxar, vai se tornando um hábito com horas marcadas e, quando a gente se dá conta, está bebendo de manhã para evitar o tremor das mãos e a fraqueza do corpo, até o dia em que só se dorme alcoolizada e se acorda a cada duas ou três horas para beber novamente.
Se alguém, especialmente uma mulher, estiver passando por aquilo que eu passei, meu maior desejo é que esta crônica lhe toque o coração por saber que ela não é a única; lhe desperte a mente para a necessidade de ajuda e que existe ajuda especializada, inclusive gratuita; que eu estou a disposição para maiores esclarecimentos e que minha mão e meu coração estão estendidos para ouvir e ajudar.
Porque eu já afirmei e reafirmo, por experiência própria, que o álcool é gradativo, traiçoeiro e fatal. Mas, com força e vontade, a gente vence o monstro. Sou a prova viva disso: estou sóbria há sete anos!