Vida de gente grande

Talvez o fato de me sentir cada vez mais só, no meio de tanta gente, esteja pesando mais por esses meses. Toda aquela liberdade sonhada com o fardo de "morar sozinha" não é tão encantadora quanto me parecia quando eu era criança. É tão ruim a sensação de silêncio, de eco na sua voz. O silêncio me mata muitas vezes. E a televisão fala qualquer coisa para me fazer companhia e para tentar quebrar esse gelo. Minha alimentação se resume em congelados, miojo, biscoitos e gelatinas. Ah fala sério, quem nunca sonhou com isso? Poder comer chocolate antes do almoço, ou não almoçar quando o cardápio é brócolis. Mas na prática, não é tão legal quando parece, o brócolis começa a ser gostoso.

Acordar a qualquer hora, ir ou não a escola, dormir se eu quiser dormir. Sem obrigações, sem regras, sem aborrecimentos. Por que eu não consigo mais achar graça nisso tudo?

Crescer cedo demais me fez adquirir uma maturidade além da minha idade, é sobrenatural encarar certas coisas que eu encaro pelo simples fato de acharem que eu suporto. Claro, afinal eu sempre suportei, nunca reclamei, nunca disse "não vá embora". Eu deixo ir, quem quer ficar fica. Não sou ditadora ou burocrata para exigir a presença de ninguém na minha vida. Deixo a porta aberta, quem entra conhece a pior e a melhor Jade do mundo. Sou grossa, teimosa, orgulhosa, não sei ser carinhosa. Mas sou tão frágil como um cristal, sou amiga, gosto de saber que sou importante, que sou útil. Mas não peço para ninguém ficar. Já me acostumei a conviver com entradas inusitadas, saídas doídas, sabe daquelas que rasga o coração e leva um pedaço dele junto? Então, meu coração é cheio de buraquinhos, igual o da música da Chiquititas. Com o tempo ele vai sarar. Pelo menos espero.

Sei que nessa vida ainda vou me sentir muito mais só. Aprendi a ser minha melhor amiga, meu melhor amor, minha mãe, irmã, babá, psicologa e muitas vezes até minha filha. Eu cuido de mim, eu me amo e me trato com todo amor do mundo. Sei que esse é o fundamento básico para a felicidade, estar bem consigo mesmo. Mas de verdade, só aqui entre nós, não é fácil crescer não. As responsabilidades pesam sobre meus ombros. O medo do escuro hoje é o de menos. Sinto falta de ser criança e dessa casa cheia. Hoje aqui só sobrou os escombros, ou seja, EU!

O peso da idade que nem é tão grande assim. Me faz parar para pensar, caraca eu ainda nem tenho 18!! Muitas vezes isso é surreal até para mim. Não sei como eu consigo levar tudo isso. Esse amontoado de sentimentos, mágoas e dores dentro de mim com esse sorriso que, apesar de doído, é sincero e verdadeiro. Acho que meu amor pela vida é maior que todos os obstáculos que o destino coloca em meu caminho. Espero que seja sempre assim, que nenhuma pedra tire meu riso frouxo. E que essa vida de gente grande não continue assim, tão solitária.