E DAÍ?
Os rótulos nunca foram tão fortes como os tempos atuais. Embora, pela evolução da civilização, não deveriam ser e até deveriam ter sido extintos. Um ser estranho à Terra, observando isso, terá a impressão que nossa sociedade está bem arrumadinha e que esses que destoam dos padrões não sejam terráqueos. Mas nós que terráqueos somos há bilhões de anos, sabemos pela historiografia que diferenças sempre existiram e que hoje ainda existem países com leis discriminatórias que raiam às profundezas da ignorância.
E é exatamente a ignorância, aliada à falta de sentimento de justiça, que ocasiona o preconceito. Em pleno Terceiro Milênio parece impossível que existam expressões que ferem os atingidos e só desabonam certos indivíduos que se dizem evoluídos. Bulling hoje é crime, mas o que pode fazer a Justiça com a cabeça daquele que sofre, muitas vezes desde a infância, esse tipo de tratamento? Os rótulos se sucedem e não existe um instrumento suficientemente delicado para medir o grau de tristeza e dor que cada um dos atingidos carrega dentro de si e que, talvez, nem uma vida inteira seja capaz de curar, porque as sequelas, essas, com certeza, ficam.
Eu fico aqui a conversar com meus botões e eles me dizem que o homem, com o ego inchado pelo avanço científico e tecnológico, quer fazer parte de uma sociedade arrumadinha, com personagens perfeitos, com padrões pré-estabelecidos, onde a beleza e o bom gosto imperem. Essa utopia qualquer um de nós gostaria que se tornasse real. Mas a realidade não é assim e qualquer pessoa de bom senso sabe disso. Mas nem todo mundo usa do bom senso ou talvez prefira viver num ilusório mundo perfeito, ignorando e fechando os olhos às mazelas humanas. Esses, aliás, deveriam viver numa redoma de vidro, fechados numa bolha ou, quem sabe, entrar numa nave e procurar outros planetas. Planetas onde tudo é perfeito. Só que aí seriam eles os imperfeitos, porque quem não aceita as diferenças está muito longe da perfeição.
Está na hora de olharmos para dentro de nós e nos integrarmos ao que somos e temos no momento. Chega de rótulos! Sou gorda? E daí? Sou feia? E daí? Tenho uma deficiência física ou mental? E daí? Sou homossexual? E daí? Sou pobre? E daí? Sou negra? E daí? Não tenho doutorado? E daí?
Importa que eu sou gente, que somos gente e, se a casa parece desarrumada é porque falta um pouquinho de vontade de nos colocarmos no lugar do outro. E termos a consciência que nosso Planeta é uma casa ainda inacabada, onde cada um tem seu papel, por menor que seja, de contribuir para isso, colocando a pedra necessária para essa construção.