Karamanero
Eu via um filme quando pensei: “caramba, todas as mocinhas que ficam com o protagonista, todas elas sempre são o meu tipo. mesmo quando não são o meu tipo. bom, sabe como é, deve ser a magia do cinema. aquilo são personagens muito bem montados, com boas falas e boa maquiagem. é, vai ver é isso”.
Então você volta para o mundo real, para as meninas que você conhece, que você conversa, que tem contato em rede social e que de vez em quando dá uma xavecada. Bom, elas não são o tipo das meninas dos filmes. Aliás, as meninas que são do mesmo tipo das dos filmes, essas nunca querem nada comigo, nem mesmo conversar, nem querem saber se eu sou um cara legal, se eu posso ser o protagonista das nossas vidas e... é, aquilo também é um personagem, muito bem montado, etc etc.
Daí você conclui que os filmes são uma mentira. Não que alguém um dia duvidasse que não fosse, mas oras, quantas meninas nós conhecemos que suspiram em suas comédias românticas ou ainda nós, caras nerdezões e pacatos que se impressionam quando um cara com o nosso esteriótipo se dá bem com uma menina linda. Isso é tão ficcional quanto Star Wars.
Só que a gente é teimoso, enquanto eu não venho aqui dizer que isso não - não - é verdade, a gente insiste em acreditar que vai, quem sabe uma vez na vida talvez venha a ser a realidade de um ou outro perdido por aí. Pode ser. Mas que não é a sua, eu sei que não. E nem a minha. Os filmes são uma bela de uma fonte de inspiração (eu escrevo isso depois de ver Zombieland), mas a gente por vezes acredita que aquelas pessoas talvez pudessem a vir a serem reais e... não. Nenhuma delas o é.
Outra mentira é essa de “não ser meu tipo” ou ainda “eu tenho um tipo que é X”. É por isso que estamos todos sozinhos. Claro, todo mundo tem suas preferências pessoais de o que gostaria que o outro tivesse, mas... eu acredito que isso só complica mais ainda as coisas. Quero dizer, nos últimos tempos tenho começado a acreditar mais nisso. Até então eu tinha um padrão muito alto que não cabia a mim. Tem quem insista e consiga? Talvez até tenha, sorte deles. Não é a minha, nunca foi, e isso vale pra muita gente.
Sem contar que esse é o exemplo mais clássico de julgar um livro pela capa. Andando pelo shopping a gente vê cada menina linda, mas não sabemos como ela é ao abrir a boca e então finalmente começar a tentar ver quem realmente ela é. E ainda assim isso pode não ser suficiente, tem pessoas que a gente leva décadas para descobrir quem realmente é! O que a outra pessoa diz, ou sabe, ou como age; isso sim que deveria ser considerado como sendo ou não o meu ou o seu tipos. Mas não, a gente vive num mundo de aparências, o que conta é quem eu aparento ser, e não quem eu sou - e isso é muito triste porque as pessoas que são boas e não aparentam, bom, elas ficam sobrepujadas pela ditadura da beleza. E ficam aí, sofrendo sozinhas nos invernos gelados e escrevendo textos para a internet. Ora!
Ainda assim, não tem como negar, todos nós fazemos isso. É um exercício, uma prática a ser desenvolvida o hábito de não fazer. Até lá, a gente segue quebrando a cara com as aparências. Tanto dos outros, que insistem em nos enganar - seja por querer ou não - ; quanto as nossas, que não sabemos passar, ou que passamos errado... ou qualquer coisa dessas que, enfim, não surtem efeito em quem nós queiramos que surta.
Tudo vira bosta.
-G-