As bengaladas no Zé Dirceu (Bem Galadas no Zé!)

I

Acredito em Deus como energia que contém todo o Universo e até mais além de seus confins, por mais que seja este um exagero. Digo isto para que não me considerem ateu, pois não professo e não creio em nenhuma religião. Confesso que é um modo particular de convívio com a minha consciência e que me estimula a ir em busca de respostas e conhecimento sabendo Deus em um lugar que a minha compreensão no momento não alcança, reservando-me a oportunidade de buscá-lo a meu modo.

Sinto-me mais confortável e confiante deixando-me pensar de maneira livre, alheio às amarras das religiões e crenças e até às amarras dos livres pensadores e intelectuais.

II

Soube que juízes praticantes ou simpatizantes do espiritismo deram vereditos baseados em ocorrências, sinais e interpretações daquilo que acreditam, principalmente baseados em mensagens de médiuns e textos psicografados. Não me cabe questionar ou entrar no mérito legal desses procedimentos, mesmo porque não me considero apto a entender certos fenômenos sobrenaturais.

III

Em 19 de novembro de 2005 o escritor curitibano Yves Hublet, Belga de nascimento, foi notícia nacional ao desferir golpes de sua bengala no José Dirceu, então deputado, na saída do plenário da Câmara.

Isto ocorreu um dia antes do José Dirceu ter o mandato cassado e os direitos políticos suspensos até 2016, por seu envolvimento no Mensalão.

Nas capas dos jornais e revistas aparecia um velhinho simpático, bem apessoado e de cabelos brancos, mas com a visível cara de indignação.

Soube depois que ele foi detido pela Polícia mas liberado. O José Dirceu tentou processar o escritor por duas vezes, mas a Justiça considerou os pedidos improcedentes.

O velhinho, na época um senhor de 67 anos, mas que a barba e cabelos brancos deixavam mais velho tornou-se simpático ao público brasileiro e, caso fosse preso, creio que teria um Brasil inteiro a seu favor. Como todos, preocupei-me com ele. E se fosse preso? Processado?

Então, pensando nisso é que fiz um texto que divulgo agora com o intuito de trazer à tona este peculiar e quase folclórico episódio da vida política brasileira.

IV

Perguntava, então, aos nossos magistrados com entendimento espírita, se não estaria certo absolver no ato e por antecipação, se é que já não estava absolvido, o "Velhinho da Bengala"?

Baseei-me nos seguintes argumentos:

1) Ao bengalar o Zé, tão logo o viu, mostrou uma vitalidade e reflexo não condizente com a idade. De onde brotou esta energia instantânea?

2) Poderia ser um ato isolado, mas não o foi, ali estava ele lavando a alma de todos os brasileiros. Foi simbólico. Sozinho fez o que todos os "cara-pintadas" não fizeram e não fariam.

3) Foi, talvez, o depositário do "inconsciente coletivo" que, através de forças por mim incompreendidas mas supostamente espíritas e/ou metafísicas, eclodiu naquele momento em que encontrou o Zé. Não houve premeditação e o ato foi espontâneo. Como uma faísca saída de um "corpo carregado". Ele estava ali distribuindo seus livros nos gabinetes e o encontro foi totalmente casual.

4) A essas supostas forças (referi-me ao inconsciente coletivo) agrega-se também forças do Além, pois podemos imaginar que o que está ocorrendo no nosso cenário político deve fazer muito morto se revirar no túmulo. O ato teve também a simbolizar a presença desses indivíduos incorpóreos liderados pelo Celso Daniel, nome que me veio à lembrança, na falta de um melhor.

Com certeza que nessa linha de raciocínio os magistrados poderiam agregar mais argumentos e propriedades peculiares que são de conhecimento profissional e espírita. Só queria dizer que o "Velhinho" não estava sozinho, tinha com ele a consciência e inconsciência de mortos e de vivos adormecidos, e eu me senti lá...

Após a agressão mudou para a Bélgica. Retornou ao Brasil em 2010 quando foi preso no Aeroporto de Brasília, vindo a falecer alguns dias depois no Hospital Regional da Asa Norte, diagnosticado com câncer no intestino.

Não sei por onde anda a sua bengala, mas sugiro a quem a tenha que a guarde, pois poderá um dia, em algum museu, se tornar uma peça símbolo do episódio que marcou o início do fim da Era Zé Dirceu.

Mas que o "Velhinho da Bengala" me pareceu um Papai Noel antecipando o Natal daquele ano a todos os brasileiros me pareceu!