Na terra da velhinha de Taubaté

Sendo turista, posso conhecer os museus que os próprios moradores da cidade nunca tiveram ocasião para conhecer, pois estão todos preocupados demais vivendo. Sei como é: moro em Brasília há três anos e, ao contrário dos turistas, ainda não conheci o Museu JK, e só na companhia de outros visitantes é que conheci o Palácio da Alvorada. Assim, não foi de se estranhar que poucos soubessem da localização e até mesmo da existência do bonito e completinho Museu Histórico Professor Paulo Florençano, em Taubaté. Ele está localizado na Avenida Thomé Portes Del Rey. Taubaté tem cerca de 300 mil habitantes, mas imagino que eu, estrangeiro, seja o único por lá capaz de citar Thomé Portes Del Rey entre os seus antepassados. Thomé fez parte dos homens que partiram para a região das Minas Gerais em busca de ouro. Alcançou o Rio das Mortes, perto da cidade que, por sua causa, é chamada São João Del Rey. Acabou morto pelos seus escravos. Com ele também andou Domingos Soares, cujo neto João um dia, sem razão conhecida, largou Taubaté e foi para Curitiba, contribuindo assim para que o cronista aqui não nascesse no Vale do Paraíba, mas na região das araucárias.

Mas isso são apenas histórias. Outra delas diz que Dom Pedro I dormiu em Taubaté. É sabido que uma das mais nobres funções dos imperadores é a de dormir nas cidades por onde passam. Assim fez Dom Pedro por uma única noite, em agosto de 1822. Logo se vê que, modéstia à parte, eu estou em vantagem, pois, somando minhas duas passagens por Taubaté, já cheguei a sete noites dormidas na cidade. É verdade que, depois de sair daqui, eu não dei nenhum grito às margens do Ipiranga, nem proclamei independência alguma. Assim é a vida.

Falava eu dos museus. Existe em Taubaté um Museu da História Natural, pertinho do Museu Histórico. Por história natural entenda-se coisas de milhões de anos atrás, de troncos de árvores a dinossauros. As datas são realmente de embasbacar. Há algumas réplicas em tamanho natural dos curiosos animais que em um dia bem distante habitaram a Terra. Descubro inclusive um dinossauro do Vale do Paraíba. Esse, mais recente, viveu há 23 milhões de anos. E eu me achando grande coisa por descobrir antepassados dos anos 1700. Não, eu pesquiso dinossauros mais recentes.

Ainda estava nesse maravilhamento quando apareceu um repórter da TV Vanguarda, a Rede Globo local, e perguntou se não podia fazer umas imagens minhas enquanto eu olhava a exposição. Eu autorizei, até porque ainda era cedo e não havia mais ninguém no museu. Mas eu conheço os jornalistas, e sabia que, depois das imagens, viria a inevitável entrevista. Falei então um tanto atabalhoadamente sobre o que acabara de ver. Foi o dia em que saí na Globo.

E mais não sei. Essas foram coisas que vivi enquanto estive nos Sertões de Taubaté, explorados pelo Capitão Jacques Félix e habitados anteriormente pelos índios guaianás. Já não se fala mais em ouro, mas principalmente em trânsito – há sempre alguma rua cuja mão deveria ser mudada, ou não, para facilitar a vida dos 180 mil veículos locais. E, mesmo sem ter bebido a água da Bica do Bugre, dou por cumprido o vaticínio de que quem assim fizer voltará um dia a Taubaté.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 19/07/2013
Reeditado em 24/07/2013
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