O Gigante Sonolento

Agora sim, podemos afirmar que o tal Gigante deu apenas uma acordadela sonolenta, olhou para o lado, bocejou, virou o travesseiro para a parte fria e jogou-se novamente impávido aos braços de morfeu. Caiu em seu habitual estado letárgico, num sono profundo praticamente imutável, inatacável e inabalável. Bombas atômicas podem até cair ao lado de seu leito, e o Gigante sequer erguerá um dedo para coçar o nariz. A não ser que haja um gol, que se grite o carnaval ou que se abram as ligações para eliminações de Big Brothers. Aí sim ele calça as sandálias de pufe, perambula pela imensidão alienada que se chafurda na futilidade, participa fervorosamente destes atos cívicos, e imediatamente volta ao leito dos justos para um quase imperceptível R.E.M. que precede mais sono, e sono, e sono.

Ao mesmo tempo, sorrateiramente enquanto o Godzilla tupiniquim e as massas brincam de se divertir, no breu das tocas são decididos aumentos de salários, impostos, licitações, fraudes, e outros néctares maculados cujo propósito único é entorpecer mais e mais a Fera, num caldo sonífero que deitaria dezenas de elefantes apenas pelo aroma. Bom que se diga que, antes de cada aplicação do injetável, os veterinários - que manipulam como querem o sono dos animais - ensaiam medidas paliativas em resposta aos gritos que ouvem entre cada acordadela. Não querem, de maneira alguma, uma Criatura vociferante, que as vezes (em raríssimas ocasiões, diga-se de passagem) acorda com certa petulância e virilidade, quebrando os móveis e exigindo melhores condições em sua jaula. Seus donos então acenam com melhorias, sabendo que em breve o Gigante cerrará os olhos em mais um apagão contumaz, e nenhuma medida precisará ser tomada, a não ser observar a Fera dormindo em paz, profundamente.

Aliás, olhando assim do alto, não entendo porque essa criatura vem sendo chamada de “Gigante”, com um significado assim tão colossal. Apenas seu corpanzil é realmente grande, infinitamente desproporcional ao seu cérebro. De fato, a criatura é imensa, toma quase toda uma metade de seu globo, mas custa-lhe sobremaneira decidir entre dar um passo ou erguer um braço. Gigantes de verdade usam todo seu corpo de forma correta, são muito bem tratados por seus veterinários, não passam a vida toda dormindo. Não mais metaforicamente falando, Gigantes de verdade lutam por tudo que está dentro dele, oferecem segurança, saúde, qualidade de vida. Não tem políticos corruptos como regra, e sim como exceção. Valorizam seus jovens dando-lhes educação de qualidade. Enaltecem seus professores. Qualificam seus trabalhadores. Punem severamente qualquer um que tenha infringido suas severas leis. Possuem políticos fiscalizados e não imortalizados como ídolos e heróis. Tratam turistas com respeito. Mantêm sua estrutura sempre impecável. Não gastam bilhões anualmente com servidores que não fazem nada. Têm universidades que são referências no mundo todo. Enfim...

Gigante? Acho que, mais uma vez, fomos longe demais. Menos, Brasil. Menos. Somos um anão. E temos que nos reconhecer como tal. Querem uma prova de que o Brasil é simplesmente uma criaturazinha que nunca aprende com seus erros? Nas próximas eleições, a maioria desses políticos, verdadeiros veterinários de Feras dorminhocas, será reeleita. É isso. Boa noite de sono a todos e até um próximo despertar.

Alessandro Cardoso
Enviado por Alessandro Cardoso em 19/07/2013
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