Tudo Pode Começar com "M"

O tudo mora perto do nunca. Mas nunca tudo se alcançará.

É natural que acabe um dia explodindo a indignação da gente diante de uma adversidade que se perpetua. E que aí saiamos quebrando tudo à nossa frente, especialmente tudo aquilo que representa a opressão. Na suposição de que, de uma hora para outra, pudéssemos alterar aquele estado adverso permanente. Ou que, pelo menos, pudéssemos dar o troco, fazendo com que a opressão se lembrasse da 3ª Lei de Newton: “A toda ação corresponde uma reação igual e contrária”.

No entanto, na hora em que verificássemos o saldo do nosso investimento, possivelmente nos surpreenderíamos com a sua pequena expressividade. Poderíamos chegar à conclusão de que muito pouco teríamos ganhado. Ou que a nossa vitória teria sido a de Pirro. Fazendo jus ao contrário do que nos ensinou o Profeta Gentileza, o grande mestre das ruas e dos pilares que estão querendo demolir, na zona portuária do Rio: “Desgentileza gera desgentileza”.

Talvez fosse oportuno invocarmos as figuras de Martin Luther King e Mahatma Gandhi. Para não falarmos de Mandela. A propósito, tudo com “m”.

Numa das sociedades mais arraigadas ao preconceito racial, Luther King teve papel fundamental na elevação da condição moral e social do negro. Objeto de um outro holocausto de que não se fala tanto. Mas não conseguiu tudo. Porque tudo nunca se consegue. O que não quer dizer que não se deva tentar. Qualquer ser humano sabe disso. Ou não teríamos esse moto contínuo em que se constitui o que entendemos por evolução.

Tanto não se consegue que ainda hoje vemos um morador/guarda particular/atirador de elite assassinando um jovem negro por estar nas imediações de um condomínio, exatamente nos EUA, portando alguns biscoitos no bolso.

Pode-se dizer que se tratam de casos esporádicos, na nação cujo presidente atual ironicamente é um homem negro. Eleição que, de uma forma ou de outra, não pode deixar de ser creditada à figura de Luther King, dentre outros que lutaram com ele pelo fim da discriminação racial. O que valeu ao grande líder o seu assassinato. Como costuma acontecer com aqueles que lideram qualquer tipo de luta contra o sistema.

Por outro lado, Gandhi teve decisiva participação na libertação da Índia das garras implacáveis do Império Britânico. O mesmo que festeja hoje o nascimento de mais um herdeiro. E que a mídia internacional do Ocidente se apressa em querer que todo o mundo comemore.

Apesar de todas as distorções e contradições, a Índia é hoje um país autônomo. E tem provavelmente o domínio da tecnologia nuclear para a construção, se for o caso, de mais uma bomba atômica. O que a deixa numa situação de certo conforto diante de eventuais ameaças das potências dominadoras/colonizadoras/invasoras que todos conhecemos.

Tudo isso conseguido – seja por meio de Martin Luther King ou através de Gandhi e, poderíamos até falar, de Mandela – de forma pacífica. Mas incessante.

A rapaziada pode até não concordar. Aliás, não deve concordar. Ou não tem que. E não é isso o que se pretende. O que se pretende é a observação de que pode vir a calhar a lembrança de determinados ensinamentos.

Não entendemos que certos governantes, com notório histórico de desmandos e depravações, devam ser preservados. Mas haverá talvez maneiras mais eficazes de retirá-los do poder. Apesar de morosas. E que – o mais importante – resultem em desestimular, inibir ou impedir o surgimento de novos governantes do mesmo tipo.

Rio, 19/07/2013

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 19/07/2013
Reeditado em 19/07/2013
Código do texto: T4394204
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