PIOLHOS DE RICO

Há quem adore rico. Certamente não àquele rico de fachada, que aparece toda semana nas páginas de soçaite dos jornais ou fazendo campanhas de benemerência, sob alcunhas de bons moços e gente de bem. Gente chic que veste nos grandes magazines, e se atualiza em grifes de marketing. Há os que adoram gente rica, e não são pessoas ruins ou cidadão menores. São apenas simplórios. E também não há nada contra os verdadeiramente abonados, que construiram suas fortunas e obtiveram seus bens com labor, aumentaram seu patrimônio ou investiram nos que lhes foi legado de direito. Mas há os que grudam nos ricos, diria que são verdeiros piolhos de rico, cono costumava dizer um colega de serviço, talvez um pouco incomodado pela sabujice de um ou outro companheiro. Mas analisando a situaçào, me dei conta que piolho de rico é aquele que está sempre grudado numa pessoa abonada, em qualquer esquina que vá, em qualquer cruzeiro pra lhe dar as boas idas (e vindas), em qualquer festa de bodas em Punta de Leste, talvez inconsciente grude de tal forma para um dia chegar à Casa grande.

Este tipo de pessoa costuma adorar o rico que representa a verdadeira elite, não falo dos novos ricos ou filhos de imigrantes, que aqui vieram labutar e conseguir suas riquezas pelo trabalho e esforço. Muito menos da elite intelectual. Esta deveria ser a verdadeira elite, a da educação, do ensino, do conhecimento. Falo da velha elite, cujos representantes herdaram terras e enriqueceram com o sangue dos escravos e índios, como tão bem se expressava Gilberto Freyre em sua “Casa-grande & Senzala”, alimentando a luta de classes, investindo no sangue que irrigava as plantações que provinham os celeiros. Talvez as pessoas que possuam este fascínio pela riqueza e pelos que a usufruam, cultivem a fantasia da estirpe dos monarcas, dos grandes latifundiários, dos colonizadores que exploraram, povoaram e dominaram a terra, cheios de saudade de seu Portugal, sofrendo por decepar cabeças de insurrentes naquele seu sentimental lusitano. Talvez elas os amem apenas porque correspondem aos mesmos preconceitos arraigados da elite que criou a monocoultura latifundiaria, o sistema econômico, social e politico, de produção, completada pela senzala, ou seja, a Casa-grande, que muitos ainda cultivam (e acham que ainda existe). Talvez os amem por serem contritas em suas orações, tal como o eram as famílias que tinham o capelão subordinado ao pater familia, inseridas num patriacarlismo poligono e no compadrismo da politica, no autoritarismo. Talvez adorem este tipo novo de vida, que vêem nas novelas da Globo ou nas revistas de celebridades ou mesmo na Veja, onde a elite verdadeira se vê ali acobertada, de tal forma que está acima de qualquer justiça ou bem social, que se veste de boazinha e de caráter íntegro, mas sobrevoa a política e alcança com fúria os poderes da mídia, da manipulação, dos podres poderes, como dizia o poeta. Um poder que corrompe os simples e deforma mentes, ao criar sistemas de permanência de sua própria classe. Quanto aos outros, os da classe média, que rastejam subordinados a mediocridades tacanhas, vindo de autoritarismos de tempos passados, a estes, apenas a conformação do reflexo na janela. Tem o carro importado, a roupa de grife, e pensam sinceramente no acolhimento. Mas que nada, como na canção do Chico que assinala o furor do colonizador lusitano, as coisas acontecem assim: “Sabe, no fundo eu sou um sentimental

Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dose de lirismo... (além da sífilis, é claro)

Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em

torturar, esganar, trucidar

Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora...”

Gilson Borges Corrêa
Enviado por Gilson Borges Corrêa em 19/07/2013
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