Viveu, vive
Começo de manhã de inverno.
Céu acinzentado.
Não venta, só faz frio.
As plantas e as árvores cobertas com pingos de orvalho.
Um casal de garças corta o ar.
Tudo normal.
Início de mais um dia.
Horário de trânsito intenso.
Logo o silêncio retornará.
Alguém dorme ainda.
Férias escolares, férias trabalhistas.
Aposentados, que demoram um pouquinho mais na cama.
Aquela mulher, como muitas, levantou-se cedo.
Fez o café, esquentou o leite, buscou o pão.
Molhou as plantas, arrumou as camas.
Sentou-se para escrever poemas e ouvir música.
Os que, com ela convivem, a percebem.
Mas parece não vê-la, somente se ela não estiver presente.
Sobrevivem sem ela por um tempo, se ela faltar irão se acostumar.
Ela sente-se só, abandonada, sem ser amada.
Abençoa a todos, pede a Deus por eles.
Ás vezes chora sem que ninguém perceba.
Ás vezes dorme cedo, vencida pelo cansaço.
Ás vezes dorme, simplesmente, porque está triste.
Lê, reflete, relaxa e dorme.
Ás vezes, somente ouve música e dorme.
Mas acontece dela nem conseguir dormir.
Um medo, ou causa orgânica.
Ultimamente ela está vivendo.
Ignorando muita coisa que antes a incomodava.
Cuidou melhor de si e sente-se melhor.
Sai mais, sozinha, ou com amigas.
Não dá para ver aquele programa favorito?
Vai fazer algo mais interessante.
Vai á casa da amiga que vende produtos de beleza.
Encontra-se com parentes e amigos para rir e falarem de banalidades.
Para irem ao cinema ou um evento que os interesse.
O homem não é mais tão importante para ela.
Antes se preocupara, se ele a amaria.
Agora ela se ama.
Amor ela tem, três, seus filhos.
Trabalha para manter suas necessidades e ajudar em casa e aos filhos.
Sensível, ela percebe tudo a sua volta.
Sente a amizade verdadeira e a hipocrisia.
Luta diária, descanso e recomeço.
Esperança, fé e persistência.
Vai vivendo um dia de cada vez.
Agora que viveu meio século mais um.
Sente-se bonita ainda, sensual, está de bem com seu corpo.
Costuma soltar risadas gostosas.
Conta e ouve piadas.
Foi-se transformando ao longo da vida.
Mas a alegria sempre fez parte de seus momentos.
Nunca foi completamente alegre, mas também não foi completamente triste.