Democracia Popular
Lemos hoje nos jornais que os vencimentos dos políticos brasileiros estão entre os mais elevados do mundo, segundo a revista britânica The Economist. No que somos apenas superados pela Austrália, Nigéria, Itália e Estados Unidos.
Um deputado federal no Brasil ganha cerca de 160 mil dólares por ano, ou seja, perto de R$ 26.000,00 por mês, mais plano de saúde, auxílio alimentação, auxílio moradia, passagens aéreas, cota parlamentar e carro oficial com motorista. Nesse contexto, torna-se fácil entender porque uma pessoa faz de tudo para se eleger – investe pesadas somas durante a campanha, prostitui-se, se for o caso, dando o que é dele ou dela, e pode até transformar-se num criminoso (a), planejando o assassinato de um concorrente. E depois de tudo isso, vai fazer o impossível para se manter no cargo, para que não tenha que se eleger de novo.
Uma verdadeira reforma política, além da implantação do voto facultativo e distrital, deveria ser drástica na redução desses benefícios. Que não encontram qualquer paralelo com a realidade pecuniária do cidadão comum. Com a exceção de empresários bem sucedidos, traficantes, artistas renomados ou jogadores de futebol “fora de série”.
Enquanto tal reforma não acontecer, a primeira motivação para a carreira política, salvo os casos especiais, será a realização pessoal, garantida com o uso ou usufruto de vantagens que não estão ao alcance de qualquer um. Tornando-se secundário ou desimportante o exercício do mandato visando exclusivamente os interesses da coletividade.
Tais interesses se constituiriam na mola propulsora do desenvolvimento da nação, se fossem defendidos pelos políticos que somos obrigados a eleger. Pois redundariam em melhorias nas áreas de habitação, saúde, educação, trabalho, transporte, etc. Isto é, tudo o que o povo deseja há 500 anos!
Para que tais setores possam chegar ao nível de excelência que almejamos, será preciso o trabalho incessante e desinteressado dos políticos e governantes escolhidos pela população. Contudo, enquanto a preocupação desses políticos e governantes estiver mais ao lado da manutenção dos benefícios inerentes aos cargos que ocupam, não haverá espaço para a efetivação do que o povo necessita.
E é por isso que vemos hoje, em nosso país, pessoas que acreditávamos comprometidas com a ideologia esquerdista – tradicionalmente mais ao lado dos pleitos populares –, usando das mesmas práticas direitistas que antes condenavam. Fazendo com que se desenvolva no Brasil uma democracia específica ou peculiar, voltada para a realização de muito pouco ou quase nada do que possa estar no âmbito do interesse social.
Rio, 16/07/2013