Jaz
Eu não sei lidar com a morte. Estranho inicio de um texto, já que não saber lidar é algo natural, as vezes até banal.
Não sei se é a cabeça do existencialista que naturaliza tal evento. Mas pode ser que seja aquela criança que aos 5 anos de idade pela primeira vez viu um defunto e não sabia como lidar com a aquilo e ate hoje não acredita que viu aquilo e mesmo vendo se recusa a assentar pedra num jazigo que nunca viu.
Em tais momentos todos os sentidos ficam aguçados ao mesmo tempo em que se adentra um torpor que raras vezes se tem: o cheiro do café, o gosto de sal das lágrimas; a sinfonia dos cochichos, dos pequenos choros e das pedras na mesa de dominó em plena atividade velando o corpo do que jaz.
Poderia me esconder por trás da crença que carrego. Mas não necessito. Ela faz parte de mim: não necessito dela discorrer. Quero mesmo vivenciar com todas as suas nuances esse evento certo da qual ninguém escapa, mas todos evitam fala, talvez porque não se tem o que falar, só viver ou, na palavra certa, morrer.
Memoria vem. Dos antigos sabe-se daquela travessura que rendeu aquela cicatriz, aquele castigo que ajudou no caráter. Dos mais novos se ouve da saudade mais latente, já que a presença era mais real e mais intensa.
Falar que a morte não existe não ajuda. Aquilo que está estendido em uma urna, era pra ser, mais não é mais. E como seguir sem esse ente na existência em que ele fazia parte.
Final de tudo, resta a saudade, o barro insalubre da ultima morada, o torpor se transforma em cansaço que nos obriga a dormir.
E acordar amanhã, tentando esquecer o dia de ontem, um dia que jamais se esquecerá.