MONTES E MONTANHAS

MONTES E MONTANHAS

Crônica de Carlos Freitas

Dezembro de 2010. Convidados por um casal, nossos primos, fomos, eu e minha esposa, passar uma semana no Litoral Norte. Dedicamos um dos dias para conhecer a Praia da Fortaleza em Ubatuba.

... Areia branca. Num ponto da praia, via-se uma enorme arvore com as raízes expostas, as quais se assemelhavam a um siri gigante. O tronco, lembrava o chifre de um Unicórnio. A quietude, era quebrada apenas pela serena brisa que refrescava nossos preguiçosos corpos, tornando-nos ainda mais vadios. Suas mansas e transparentes águas azuis, nos levou a uma lagoinha rodeada de pedras, no canto da praia.

Nela, fomos recepcionados por um cardume, que exibia espécimes com listras zebradas. Nadavam incessantemente ao redor de nossas pernas, como que dizendo: - Bem vindos à nossa casa, num espetáculo encantador e silencioso. Praia estonteante e deslumbrante - Afrodisíaca! Uma cadeia de montanhas a circunda. Nuvens escuras pairam sobre seus cumes, dando-lhes ar de magia, beleza e mistério. Um cenário divino!

Regredi no tempo, relembrando o primeiro chamado do patriarca Moisés - O Libertador prometido, que renunciaria à condição de filho e herdeiro do Faraó Seth, para libertar o povo hebreu da escravidão do Egito. Deus lhe ordenara que escalasse o Monte Horebe. No seu cume, viu uma sarça que ardia. – Moisés, tire as sandálias dos pés, porque o lugar em que pisa é Santo – ordenou o Senhor, numa voz assemelhada a um trovão em meio às nuvens. Recebeu as coordenadas, bem como, um cajado poderoso, para que, após as dez pragas que castigariam o Egito, tirar de lá o povo hebreu, movimento esse, que ficou conhecido como Exôdo. Na sequência, livra-los-ia do jugo dos Faraós Seth e seu filho Ramsés.

Com o povo hebreu a caminho de Canaã - A Terra Prometida, e, peregrinando por longos, sofridos e perseguidos anos, sem esperanças de alcançar o paraíso prometido, o povo passou a contestar as ordens e ensinamentos de Moisés, se insurgindo contra ele. Despontaram lideres opositores ao seu comando, induzindo o povo à idolatria e a atos pecaminosos. Para adorar, criaram Deuses pagãos, como bezerros de ouro. Diziam não mais acreditar naquele Deus propalado por Moisés, o qual não podiam ver e, nem com ele conversar. Agora teriam os seus próprios. Festas e orgias consumiam o pouco da fé que restava. Quando era crítica a situação, e, Moisés viu-se perdendo as rédeas da situação, foi ordenado que escalasse o Monte Sinai – região do Mar Vermelho, no Deserto do Sinai. Assim o fez. Quando lá chegou, viu que o monte fumegava, porque o Senhor Deus ali descera em forma de uma bola de fogo. Moisés se prostrou. Implorou ajuda, para que o investisse de forças e sabedoria na condução do seu povo, permitindo-o concluir o que lhe fora ordenado – livrá-los definitivamente do poder dos Faraós, para juntos, alcançar Canaã - a terra que emanava leite e mel! Momentos depois, nos paredões do Sinai, Deus começou a gravar as tábuas dos Dez Mandamentos. Transfigurado pela visão divina, e de posse das tábuas, Moisés se pôs a descer o Monte, indo ao encontro dos seus, agora impacientes e rebeldes irmãos. Indignado com o que viu, e num acesso de fúria, quebrou as tábuas dos Mandamentos nas rochas do Sinai. Quarenta anos depois, Josué, sucessor de Moisés, chegava com seu povo na Palestina.

A leve onda que tocou meu peito quebrou o encanto. Voltei à realidade. Chamavam-me para que saísse da água. Iríamos almoçar. Do píer onde almoçamos, víamos as montanhas à nossa frente, encobertas pelas nuvens escuras. Senti-me parte daquela paisagem, de matizes arrebatadores.

Carlos Freitas
Enviado por Carlos Freitas em 15/07/2013
Reeditado em 17/06/2016
Código do texto: T4388231
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