Sidrolândia: Uma senhora quase-caduca
Sidrolândia, 15/07/2013.
Segunda-Feira de sol alto. Manhã fresca. O vento chacoalha as janelas das casas. Pouco a pouco os trabalhadores e estudantes se erguem de seus leitos e dão início às tarefas de seu dia. Ao saírem para a rua enxergam todo o dia: ônibus lotados de trabalhadores madrugueiros, caminhões apressados pela Dorvalino dos Santos, lojistas, comerciantes, balconistas. Todos passam ainda sonolentos e graves em direção aos seus locais de trabalho.
Sidrolândia é, sem dúvida, uma senhora elegante. Nascida da fértil e corajosa mente de Sidrônio, ela sustenta seus quase 60 anos com elegância. Esta senhora, no entanto, não é de todo lúcida e, não raro, precisa de ajuda para se lembrar de acontecimentos importantes, nomes de pessoas, lugares que se transformaram e que agora não figuram mais para ela como se montavam antes: coisas da idade.
Juntamente com a poeira vermelha levantada pelo ritmo duro dos motores e bicicletas dos transeuntes, nesta segunda-feira seca nasceu também, em meio à praça central, um problema: como construir e contar a história de uma cidade tão nova, tão pujante? Dada sua pouca idade frente à sua caquética vizinha Campo Grande, Sidrolândia precisa se entender.
Mescla de sotaques e termos, culturas confluentes que se debatem sobre seu peito, nossa senhora, a pérola do planalto, debruça-se por sobre a serra e suspira pensando: quem mesmo é que me deu este apelido? Aonde estão os registros? Quando será que vão me explicar? E os escritores, não há mais? Cartórios, abram seus registros! Primeiros habitantes, socorram-me e contem, mas contem de verdade, sem esconder nada, como é que vocês me construíram?
Metida consigo mesma, a acolhedora senhora rumina, todo o dia, enquanto molha a chipa no café, estas questões sobre si mesma. Ela, talvez só ela, sinta essa necessidade de se auto-afirmar, e talvez nós, habitantes de seu peito, devêssemos voltar a cabeça para esta senhora. Perceber-lhe as rugas, os vincos, as falhas – porque não? -, os cabelos que embranquecem e o corpo que se alonga, aonde são erguidas moradas de homens, ruas duras, muros e grades.
Com seu cigarro de palha aceso na varanda, Sidrolândia traga a fumaça, assiste a poeira voar, assobia o hino que lhe fizeram se pergunta o porquê do imediatismo. Nossa respeitosa senhora agora chegou aos anos em que se procura saber as raízes daquilo que se põe à nossa frente. Casas de cultura, bibliotecas e intelectuais, uni-vos! Façam com que nossa pérola do planalto assente a poeira de seu caldo cultural e, desde aqui para o “pra-sempre”, caminhe culturalmente com suas próprias, e cansadas da lida, pernas.
Gustavo Gracioli