Roupa Velha
Perdas não choram por ninguém. Eu sei. Penduricalhos, brincos, adereços se desprendem, simplesmente. E daí? Se alguns dedos, braços e orelhas ficam... Se exploro a penumbra de minhas ruelas desconhecidas, amo, choro, sinto mais, é porque vivo mais.
Sou avarento comigo, mesquinho, e recolho minhas migalhas caídas pelo caminho. Avisto a minha própria cena do mundo. Tudo precisa passar percebido. Inclusive aqueles mendigos que me batem de ombros na noite, ou se estiram pelos chãos mais frios. Agora, eles já estão comigo. Pois tornei-me, mais uma vez, de carne e osso.
Não importam as queimaduras de sol. Se a chuva é intensa, também não importa. Ela somente me molha, mas sou impermeável. Que se acalmem distâncias e tempos. Os destinos, também, precisam esperar. Se descuidei, caí na roda que gira tão devagar, vago-me num ciclo enorme, tudo bem. O meu futuro não desapareceu, apenas foi afastado para um pouco mais além.
Não há, nem haverá conforto iminente. Uma nova mudança sucede outra, e outra, e outra, sem ganhos fáceis, sem calmarias à vista. Essas tormentas também não choram por mim. Não deixam que sossegue nenhum pensamento, ou distenda-se algum músculo estressado. Não cessam. Caminham juntas, sobem e descem escadas, telhados, chicoteando-me, como seu escravo serviçal.
Estranhamente, lampejos heroicos me tocam. Então, flagro-me doando (nem sei como, nem por quê) mudas de sorrisos gastos. São velhas peças, vestimentas que não uso mais. Difíceis mesmo de achar, esquecidas no fundo de minhas gavetas. Até ressalto o caimento mas, como desleixado doador, não reconheço o devido valor. Por fim, apenas desdenho: "é mesmo roupa velha que já não me serve ..."
Perdas não choram por ninguém. Eu sei. Penduricalhos, brincos, adereços se desprendem, simplesmente. E daí? Se alguns dedos, braços e orelhas ficam... Se exploro a penumbra de minhas ruelas desconhecidas, amo, choro, sinto mais, é porque vivo mais.
Sou avarento comigo, mesquinho, e recolho minhas migalhas caídas pelo caminho. Avisto a minha própria cena do mundo. Tudo precisa passar percebido. Inclusive aqueles mendigos que me batem de ombros na noite, ou se estiram pelos chãos mais frios. Agora, eles já estão comigo. Pois tornei-me, mais uma vez, de carne e osso.
Não importam as queimaduras de sol. Se a chuva é intensa, também não importa. Ela somente me molha, mas sou impermeável. Que se acalmem distâncias e tempos. Os destinos, também, precisam esperar. Se descuidei, caí na roda que gira tão devagar, vago-me num ciclo enorme, tudo bem. O meu futuro não desapareceu, apenas foi afastado para um pouco mais além.
Não há, nem haverá conforto iminente. Uma nova mudança sucede outra, e outra, e outra, sem ganhos fáceis, sem calmarias à vista. Essas tormentas também não choram por mim. Não deixam que sossegue nenhum pensamento, ou distenda-se algum músculo estressado. Não cessam. Caminham juntas, sobem e descem escadas, telhados, chicoteando-me, como seu escravo serviçal.
Estranhamente, lampejos heroicos me tocam. Então, flagro-me doando (nem sei como, nem por quê) mudas de sorrisos gastos. São velhas peças, vestimentas que não uso mais. Difíceis mesmo de achar, esquecidas no fundo de minhas gavetas. Até ressalto o caimento mas, como desleixado doador, não reconheço o devido valor. Por fim, apenas desdenho: "é mesmo roupa velha que já não me serve ..."