COM O TEMPO
Com o tempo, os sentimentos infantis se evaporam: Os medos absurdos, a crença gratuita (sem indagações) e outras coisas mais. O seu eu de hoje pode esquecer completamente o que você foi, o que você era. O que você prometia ser pode não ter se concretizado em absolutamente nada... Em suma, você pode ter se tornado outro ser, melhor ou pior, com o tempo.
Com o tempo (e nem sempre muito), você talvez deixe de gostar daquela música e passa a ouvir outra. Passa a comer por si mesmo aquela comida dantes intragável, que só ingeria ao ser comprado pela mãe por um copo de suco. Hoje, ao se lembrar de seu grupo de amigos na escola, você pode perceber que, talvez, não haja mais ninguém com você, que cada um tomou um rumo diferente e, o mais louco nisso, é que você talvez repare também que certa pessoa com quem você "não ia com a cara" faz parte do seu grupo de amigos hoje!
Com o tempo, tudo pode acontecer... Meninas crescem bastante, meninos também, e a gente tem que mensurar antigas coisas de um jeito todo especial... "Aquela roupa que você encontrou ao rever coisas antigas encolheu tanto!..." "Aquela parte de um antigo brinquedo de qual brinquedo era parte?..." "Olha como você se vestia nessa foto!..." Com o tempo as coisas mudam: Umas se multiplicam, outras se extinguem... é uma mistura de sentimentos e objetos a que chamamos nostalgia...
Mas esse texto não é sobre isso... esse texto é sobre a relatividade... Esse texto é sobre eu não saber se ela deve ser encarada como motivo de crença ou descrença. Sim, eu posso desacreditar em tudo, não ver mais nenhuma razão em construir nada, uma vez que tudo está sujeito a essas mudanças súbitas e radicais. Mas eu também posso, pelo mesmo motivo, passar a acreditar no improvável... Isso também é relativo. Tudo é relativo.
O tempo é rei e saber disso tornam humildes os grandes e esperançosos os pequenos. É claro que sem colocar tudo nas mãos do tempo pra que ele resolva, a gente deve correr atrás. Nosso papel é sermos bobos da corte do rei tempo, ao planejar nosso futuro sabendo que a decisão final é dele. Ah... Quantas coisas são lançadas nisso... O destino é um brincalhão, ele cria os mais loucos roteiros pra terminar no mais óbvio fim!