À primeira vista
À primeira vista
Uma troca de olhares sem querer, em seguinda de uma estranha sensação que naquele instante minha vida estava mudando. O porque que aqueles olhos cor-de-mel me prendia, não sei explicar até hoje, talvez nunca saiba. Mas, o que sei é que aqueles olhos estavam me hipnotizando.
Estavamos na seção de hortifruti do supermercado. Lugar louco pra encontrar a mulher da minha vida, mas enfim, aconteceu.
Como era encatador o jeito que ela escolhia as verduras. Ela me pegou admirando-a. Droga, ela sorriu pra mim, e todas as minhas defesas se foram. Não tinha mais volta, estava entregue aquela desconhecida.
O que vem depois ?
Uma angústia misturada com a ansiedade de fazer o primeiro contato. As mão soava, a boca secara e o corpo trepitava de emoção. Eu, um cara sempre tão racional, jurava que nunca me deixaria levar por uma 'paixão à primeira vista', nem aceitava a ideia de que as pessoas se apaixonam à primeira vista. Mas, estava acontecendo comigo. Toda razoabilidade se vai nessa hora de encantamento.
"Não, nós nos conhecemos em outras vidas!", era o único pensamento lógico que conseguia contruir naquele momento. Ainda não aceitava o fato de uma desconhecida mexendo tanto comigo, mas se pensamos bem, todas as pessoas que passam pela nossa vida um dia já foi um estranho, um total desconhecido. Ela seguia para a seção de carne. Eu precisava aborda-la, mas ainda não sabia como.
"Seja o que deus quiser!", fui ao ataque.
- Nossa essa maninha está "olho da cara", né? - que coisa estúpida que eu disse, mas infelismente já estava dito.
- Verdade... - ela sorriu pra mim. Que sorriso lindo!
"O que dizer agora?", estava totalmente perdido, não sabia o que fazer ou dizer. Sempre fui péssimo no campo da conquista. Ela sorria, e me olhava de canto. Tinha que dizer algo rápido.
- Você vem sempre aqui? - maldição, porque disse isso? Fiquei rubro de vergonha.
Ela não conseguiu segurar uma risada tímida. Todo meu orgulho foi ao chão naquele momento, a moça que eu queria conquistar estava rindo de mim. Existe coisa pior? Se existe, desconheço. Meu rosto queimava de vergonha, estava mais vermelho do que a maminha na minha mão.
- Você está tentando me cantar? - ela tentava segurar o riso. Sua pergunta não era rude nem sarcástica, tinha uma dose de simpatia e compaixão. - Vejo que não é bom com cantadas, né?
- É, acho que não... - pronto, agora a garota estava me achando um idiota total.
- Tenho que ir... - disse ela, como se tivesse se desculpando.
Eu nada disse, pra não arruinar ainda mais o meu, já arruinado, orgulho de macho.
E lá ia ela, por entre as seções de doces, conservas, eu fiquei ali observando-a, seu corpo parecia bailar enquanto ela andava. E por fim, sumiu da minha vista ao entrar na seção de limpeza.
Triste e derrotado, fui em direção ao caixa. Em curtos minutos tinha encontrado e perdido a mulher da minha vida. Antes de entrar na fila, parei em frente a prateleira de doces, e peguei chocolates e outras gulosemas. Doces sempre me acalmam, e eu estava com o coração em fragalhos. Tinha a infeliz certeza que nunca mais ia ver aquele belo par de olhos cor-de-mel.
A fila do caixa estava enorme, o que significava que, eu ainda ficaria mais alguns agonizantes minutos naquele maldito supermercado, onde havia encontrado uma mulher incrível e a tinha perdido.
- Talvez ela nem seja tão incrível assim. - nem reparei que estava pensando alto, quando percebi todos na fila estavam me encarando.
Ótimo, não bastava eu ter levado um fora, agora todos naquele lugar estavam achando que eu era um louco, um lunático que fala sozinho.
Calma aí, eu não tinha levado um fora. Não, claro que não tinha. Pra falar a verdade nem tive tempo de dar em cima da garota. Droga, isso me torna ainda mais idiota, como eu tinha deixado passar a chance de cortejar a mulher mais linda do mundo.
Ainda estava me censurando quando chegou minha vez. Comecei a colocar as coisa sobre o caixa, reparei que não tinha comprado nada que minha mãe tinha pedido. Que beleza, pra fechar com chave de ouro meu dia, ia levar uma bela bronca em casa. Poderia ter voltado e comprar as coisas que minha mãe havia pedido, mas estava tão desnorteado, que nem cogitei nessa possibilidade. Já tava fudido mesmo, tinha perdido a chance de um possível namoro. Sim, eu estava carente. Há tempos, não arrumava nem uma ficante, quem dirá, uma namorada.
Paguei, peguei as sacolas e sai daquele mercado quase correndo. Enquanto andava pelo estacionamento, decidir que nunca mais pisava naquele lugar, que só me trouxe azar. Abri o porta-malas do carro, e joguei as sacolas lá dentro. Já estava fechando-o, quando ouvi aquela voz suave:
- Luiza.
Meu coração disparou, um arrepio correu por todo meu corpo. Me virei e ela estava ali na minha frente. Não estava nem acreditando, aquele par de olhos estavam me encarando novamente. Nem tudo estava perdido. Mas eu, como bom idiota, não deixei passar a chance de demonstrar toda minha idiotice, a encarei com a cara de bobo que deus me deu, enquanto soltava um sonoro "oi?". Sim, eu não estava entendendo o porquê ela veio atrás de mim. No lugar dela, fugiria de um idiota como eu.
- Quando você aborda uma garota, deve primeiramente perguntar o nome dela. - claro, ela voltou pra zombar do bobão aqui. - E eu me chamo Luiza.
- Ah, sim. Claro, eu sou o Rafael. - como um bom bobão que sou, estiquei minha mão, que estava suando frio. Não preciso dizer que minha cara estava novamente "La maminha". - Desculpa, eu sou péssimo com as palavras. - eu estava parecendo uma criança assustada.
- Te achei uma graça.
- Um palhaço, você quer dizer, né?
- Devo confessar que amo palhaços. - pronto, conseguir minha carteirinha de bocó master. Em vez de cantar, eu estava sendo cantado.
Sorri sem graça pra ela, que parecia está gostando da situação. Estavamos bem próximos, seu perfume invadia meu nariz, me deixando embriagado. Meus olhos correu todo seu corpo, com certeza tirei a sorte grande, Luiza tinha a pele clara, os cabelos castanhos longos, seu corpo é esgrio e cheio de curvas. Ela era demasiadamente demais pra mim, um cara, um tanto quanto, simplório, sem nenhum atributo especial. Um jovem de 19 anos, magro, com espinhas e aparelho dentário, e cabelo preto todo arrepiado. Com certeza, eu era nada atraente, mas ela estava ali me dando mole.
Perdi a noção de tempo e espaço, e ela também parecia não ter pressa em terminar aquela troca de olhares. Como uma criança com os olhos brilhando em frente a uma loja de doce, eu a encarava. Não fiz questão de esconder o meu encanto, e nem conseguiria esconder. Devia dizer alguma coisa, mas não sabia o que dizer, e não podia dizer mais nenhuma merda, senão ia espanta-la.
- Bem, tenho que ir. Minha mãe está esperando as compras. - ela disse, me tirando das nuvens. E ainda, me lembrando da minha mãe e da bronca que ia levar. - Aqui, me ligar. - ela tirou um cartão da bolsa e me entregou.
Peguei o cartão. Ainda não sabia o que dizer, apenas sorri feito um bobo.
- Vou ligar, com certeza! - exclamei com um entusiamo exageradamente grande.
- Ótimo. Vou esperar ansiosa. - ansiosa?!?! Deus, ela estava me dando um mole descarado. - Tchau, Rafael.
- Tchau, Luiza.
Lá ia a mulher dos meus sonhos, mais uma vez, mas agora eu tinha certeza que ia vê-la novamente.