Greve geral: as aventuras desse Bacamarte no dia 11 de julho

Pois é meus caros 23 fiéis leitores e demais 35 de um cafezinho gostoso aos finais de tarde de sexta de vez em quando, apesar de vocês não acreditarem, eu trabalho. Mas, vejam só, estava de folga ontem. Mesmo assim saí para as ruas, eis que estou virado num ativista social!

Peguei minha máscara de palhaço que havia comprado num 1,99 na praia e só tinha usado num carnaval e me fui, tri feliz, como meu cartaz Gentileza Gera Gentileza. Cheguei no horário marcado, 18h, em Saint Geromy, uma cidade vizinha aqui de Charky City, onde uns amigos estavam organizando uma atividade. Detalhe: só eu estava lá.

Desta vez não levei o Toninho Jr, ele tá muito puxa-saco da Louise, conta tudo pra ela, até se eu falei com alguma mulher. Puxou a mim o guri, eu era bem assim, por isso o meu pai não gostava de me levar junto pra onde ele ia também.

Liguei para um dos amigos, preocupado:

- Tá, e daí? Cancelaram o ato? Só eu estou aqui!

- Daí Baca, já estamos indo, dá um guento aí!

Buenas, fui então tomar um café com um pão de queijo num bar legal em frente a praça principal da cidade, onde o ato político seria realizado. O café era bueno, mas o pão, minha nossa, deveria estar ali desde as Diretas Já!

Uns velhões entraram no bar e ligaram uma TV enorme que ali havia, na Globo News. Estava a Leilane Neubarth apresentando. Nem sabia que ela era ainda da Globo, mas até que estava bem, pelo menos a calça ultra-apertada dela dava a entender isso. E o decote mega-liberal também. Sabe como é, tô coroa, começo a reparar nas coroas.

Enquanto eu admirava os olhos azuis e as curvas outonais da Leilane, os velhões começaram a malhar o noticiário, que era sobre o dia da greve Geral. Gente, acho que eles eram de uma confraria de ex-participantes do CCC (Comando de Caça aos Comunistas). Eu ali, quieto, olhando a TV e os velhões vituperando horrores contra o governo, os manifestantes, o comunismo, pela volta da ditadura militar. Gente, fiquei pasmo, mas eles falavam essas coisas, riam, e eu, na minha, só olhava para a TV, nem virava a cara pro lado deles.

Vejam, Saint Geromy não é a minha cidade e eu estava com uma camisa azul da seleção brasileira, a 10 do Ronaldinho Gaúcho, e esperando para participar do movimento que era alvo dos caras. Tomar cuidado era bom senso.

Chega o meu amigo:

- Oi Baca, vamos pra manifestação ali na praça meu "camarada"! Viva a luta social, viva a esquerda democrática.

Os velhões me dirigiram os seus melhores olhares de ódio e repugnância, mas cumprimentaram meu amigo. Vai ver se aturavam, numa relação de ódio respeitoso e educado ente opositores que dividem a mesma aldeia. Saí daí com as duas orelhas fervendo e cuidando as costas. Vai que um dos velhões fosse gremista e odiasse o Ronaldinho, né?

Cheguei a praça com ele. Umas quinze pessoas ali. Tudo bem, o importante é lutar, sempre, pensei. E meus camaradas são uns caras legais. O irmão mais novo do meu amigo trouxe um apito, que tocava toda hora e gritava umas palavras de ordem. Que adrenalina do guri. E que mala!

Umas meninas que estavam ali, quando chegou o jornal da cidade para fotografar, não queriam sair na foto porque os seus pais não gostavam de manifestações e haviam proibido de participar. Imaginei comigo que poderiam ser netas de algum daqueles velhotes do bar.

Então meu amigo falou para elas colocarem os cartazes na frente do rosto que ficaria tudo bem. E meu amigo ainda arregimentou umas pessoas de idade e uns guris de skate que estavam pela praça para aditivar o protesto. Deu certo, bem popular o Lu. Ah, o nome dele era Lu, esqueci de contar. Bem, o nome não, o apelido, o nome verdadeiro é Lucrécio, que ele, evidentemente, não gosta de usar.

A última coisa que eu reparei era que a repórter do jornal, cruzincredo, era uma tremenda gata de olhos verdes. Do tipo que sorri e o mundo entra em ebulição. Até imagino que ela foi o motivo dos guris de skate estarem tão animados.

Feitas as fotos, ficamos na praça um tempo, colamos os cartazes na Câmara de Vereadores, onde amarramos umas fitas pretas e demos uma volta pela praça, com o irmão do Lu vá apito e palavras de ordem (que adrenalina do cara). Na hora de ir embora, como não tinha ônibus circulando na cidade devido à greve, fui pegar um táxi pra Charky City. Os taxistas, todos velhões, olhavam-me com uma expressão muito abstrata para o meu gosto. Vai ver são da mesma confraria dos caras do bar? - pensei.

Dai pedi pro Lu me levar pra casa, menti que estava sem dinheiro. Prometi pagar umas cervejas pra ele em Charky City, onde tinha crédito. O Lu não resiste a uma cerveja de graça.

Viva a luta social!

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Era isso pessoal. Toda sexta, final de tarde, estarei aqui no RL com uma nova crônica. Abraço a todos.

Mais textos em:

http://charkycity.blogspot.com

(Não sei porque eu ainda coloco o link desse blog, eu perdi a senha e não atualizo ele há séculos. Até eu descobrir o motivo pelo qual continuo divulgando esse link, vou mantê-lo. Na dúvida, não ultrapasse, né)

Antônio Bacamarte
Enviado por Antônio Bacamarte em 12/07/2013
Reeditado em 12/07/2013
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