O axé do churrasco
Santos e abençoados aniversários familiares! Eles na verdade existem ao propósito de nos fazer rir. Nos aniversários ri-se de tudo: da comida, da música, da tia chata, dos bêbados e da briga dos cachorros pelo osso...
A festa tava armada como deveria ser: carne na brasa, farofa da boa e a gelada bem estúpida. Mas, a música escolhida pelos anfitriões evocava figuras remotas e já passadas desta para outra. Quando um panteão nacional já não havia passado desta para melhor, tal como o Tim, já estava no limbo de nossas memórias, o que já lhe conferia um estado de semi-vida.
O dia foi correndo tranqüilo; manso diria. Ninguém bêbado demais... Então, após meu banquete e a fortuita visita de insossos convidados, me entreguei aos abraços de minha gentil cama.
Ao anoitecer retornei ao churrasco e descubro que as visitas eram outras, parece que o astral estava já conspirando: claramente havia um rodízio de convidados, parecia que ninguém queria se esbarrar... Bem, lá pelas tantas, música alta e nível alcoólico digno de um genuíno churrasco, eis que um convidado resolve dar o ar da sua graça. Tudo bem, não fosse ele um espírito em churrasco de um cara que jura que não crê em nada!
Aí me parece que a coisa virou filme de terror. Gritos desesperados, corre-corre, carne queimando na grelha e criancinhas assustadas e até cego perdido na zona...
Anunciada a presença da “entidade”, a mesma foi veementemente rechaçada pelos convidados a ponta pés e muita água doce!? Os evangélicos, católicos e afins de plantão, iniciam a sessão do descarrego enquanto a música festiva ainda rola na vitrola... Mas, o “penetra” recusa-se a partir (Porra! O churrasco tava do melhor! Tinha até uísque. Sacanagem!!).
Diante dos esforços inúteis das preces proferidas, o dono do churrasco decide pôr fim ao martírio:
_ Vai pro inferno porra! Não te convidei!
No dia seguinte ele me confessa:
_ Não sei por que ele foi embora... Não é do inferno que ele vem? (...)