Os Letraks - Cap. 2

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Os Letraks, por Lucas Monteiro

CAPÍTULO 2 – A Guardiã

“Ai, está escuro, está frio, onde estou? Não consigo abrir os olhos, minhas mãos não se mechem, será que estou morto?”

Um farfalhar de folhas era disseminado ao ar, o vento tomava posse do corpo branco de Edwar, estava escuro, mas lentamente o garoto começa a conseguir abrir os olhos.

“Meu Deus, onde estou?”.

O coração de Edwar acelera abruptamente chegando a batimentos audíveis. Ele estava deitado em uma grama úmida em meio a uma clareira dentro de uma floresta. No céu, a lua se assemelhava a um sorriso maligno, com a linha da boca fina como uma lâmina. As folhas das árvores formavam um circulo em torno da visão do fino astro sorridente.

Com dificuldades, Edwar senta-se sobre a grama. “Que dor de cabeça” – pensou colocando uma mão sobre o cabelo enquanto a outra se apoiava no chão.

– Encontrei o garotinho! – sussurrou uma voz máscula.

Roçagares de passadas rápidas sobre a grama fofa era produzidas. Ilan, atrás de Edwar, envolve seus braços no mesmo fazendo-o se levantar.

– Sai, me larga seu professor metido, já estou bem. – o garoto da um golpe com seu calcanhar na canela da perna de Ilan.

– Ah, seu pestinha. – vociferou deixando o garoto cair ao chão.

Edwar se levanta e da alguns passos para longe do homem. Ambos ficam se observando. A bochecha direita de Ilan estava arranhada, seus óculos estavam tortos e uma das lentes, rachada, como um desenho de uma teia de aranha.

“Meu Deus, o que é aquilo?”

– É o que dá ajudar moleques ignorantes. – disse Ilan a ele mesmo. O mesmo olha para os olhos de Edwar, que estavam arregalados de medo e fitados em sua direção. – O que foi? O que eu tenho?

Lentamente o garoto aponta seu dedo para as árvores que tinham as folhas a dançar atrás de Ilan. Com receio, o professor olha sobre seus ombros o que tanto assustava Edwar.

– Ahh! – berrou desesperado a cambalear, dando passos grandes até o garoto.

Uma sombra de um ser alto, com uma roupa e capuz grande, que se assemelhava a uma túnica esvoaçante, e em seus olhos, uma luz azul como um oceano de gelo. Grunhia como um demônio sanguinário, como um cão enorme e faminto, no lugar de mãos, garras finas, longas e afiadas que reluziam na tênue luz da lua. De sua presença, baixos sons de horror se emanavam, como o som do inferno, mulheres gritando, homens berrando e crianças chorando. A densa fumaça negra que é exalada por debaixo da túnica tirava toda a vida da gama que a tocava.

O ser se aproximava lentamente, seu forte cheiro é de enxofre.

– Socorro! – gritou desesperado Ilan a pegar na mão de Edwar para correr.

– Palavra de Abolição: Exonerar! – Gritou uma voz feminina.

Uma esfera de luz branca passa ao lado de ambos os humanos, sua passagem foi tão rápida quanto à velocidade do som. A esfera atinge o ser das trevas que progredia. Um urrar gravíssimo e raivoso foi produzido por aquilo no escuro. Linhas de letras começaram a se formar em torno do ser, a rodar rapidamente e a emanar uma luz branca. As linhas se contraem a fazer a criatura demoníaca desaparecer.

Sem demora, Ilan e Edwar ajustaram a visão para onde tinha nascido o orbe de luz.

“Ma… mas o que?!”.

– Lucy? – perguntou confuso Ilan.

“Essa é a bibliotecária?”

– Olá, Ilan. – cumprimentou-o arrumando a manga de suas longas vestes brancas, no interior das mesmas, era um tecido de vermelho rubro – Aqui não me chame de Lucy, meu nome verdadeiro não é esse. – ela sorriu.

– Vo… você não era a bibliotecária? – questionou Edwar quase se babando com vasta confusão na sua cabeça.

– Eu ainda sou, caro Edwar. – ela respondeu indo à direção deles. Atrás dela, uma junção de duplas passadas.

– Até que enfim encontramos vocês! – pronunciou aliviado Simon a coçar a cabeça.

Hariel para no lado esquerdo da moça e Simon do outro.

– Vocês dois estão bem? – perguntou a bibliotecária já perto de ambos ainda assustados.

– Agora sim – respondeu o menino loiro com seus lábios a formar um bico – sorte minha a senhorita aparecer, pensei que esse professor ia se aproveitar de mim.

– O QUE? – vociferou ele zangado apontando o dedo indicador para a face de Edwar – mentiroso! Eu estava te ajudando, sua criança mimada! Não queria fazer nada com você, sua peste, não sou pederasta! – a ranger os dentes, ele cruza os braços.

Edwar da um sorriso maldoso com um lado da boca, ele olha com os cantos dos olhos, Ilan a respirar fundo.

– Tudo bem – gesticulou ela – aqui me chamem de Kastemyra e sou uma Guardiã das Letras. Vocês quatro devem estar se questionando milhares de coisas, estou certa?

Eles assentem. Kastemyra sorri enquanto uma brisa esvoaçava sua túnica branca e seus cabelos soltos, longos, lisos e castanhos.

– Venham, deixarei vocês seguros, por agora.

Os quatro garotos acompanham-na subindo um morro, se distanciando das árvores. Simon, em algumas dezenas de passos, ia até a orelha de Hariel e sussurrava algumas coisas. O jovem de longos cabelos azulados e prendidos com dois finos metais vermelhos não expressava nenhum sentimento.

– Parem – ordenou Kastemyra – tive um pressentimento – fechou os olhos.

Todos olhavam para ela e depois ao redor, temendo alguma coisa.

– Um daqueles capetas feios de novo? – questionou Edwar.

Ela não responde e fica parada por alguns segundos.

– Vamos. – disse ela começando a andar novamente. Depois de algumas passadas ela olha para Edwar. – Aquilo de antes era um Derradeiro, são criaturas carregadas de maldade e impuras que querem sugar as coisas positivas que temos. – Kastemyra volta a olhar para sua frente – não são fortes, mas eles andam em grupos, este, deduzi que estava perdido. – ela encurta as passadas – esta ficando preocupante.

– O que está havendo? – questionou Simon a segurar o antebraço de Hariel.

– Esses Derradeiros não são comuns, mas agora estou encontrando-os com muita frequência. – ela deu de ombros enquanto sua boca se formava em uma fina linha – fujam se encontrarem um grupo de Derradeiros, já estou avisando. – mostrou o seu antebraço com finas cicatrizes. – eles não são tão piedosos.

Os quatro ficam com olhares e músculos tensos, o vento açoitava nos morros e uivava aos berros estridentes.

– Me responda – sussurrou Edwar curioso aos ouvidos de Simon – oque você é desse cara cabeludo ali? – indicou-o com os olhos.

Simon era apenas um pouco mais alto que Edwar, e ambos menores que Hariel.

A franja negra do garoto questionado esvoaçava a cada passar de brisa. Quando o mesmo abre a boca para responder, Hariel, com as mãos no bolso, inclina-se nas costas de Edwar, sua boca estava ao lado da orelha direita do menino.

– Nós ainda somos o que você está pensando! – sussurrou audivelmente apenas para Simon os espreitando.

– Ainda? – perguntou o garoto de franja. – Como assim? – franziu o cenho – quer dizer que você está pensando em me despejar?

– Daquele modo que você jogou a carta em mim, eu pensei que VOCÊ – deu ênfase – ia me despejar. – respondeu dando de ombros e a olhar ao chão.

“To me vendo sobrando aqui”.

– E… eu só ia ficar chateado – falou Simon a colocar o dedo indicador na boca – Quer dizer, eu ESTOU – imitou a ênfase de Hariel – chateado com você! – usou o dedo para apontar ao rapaz mais alto – o que você me diz sobre o significado daquilo?

– Eu tenho uma boa explicação, Simon. – respondeu com um pouco de tom severo na voz. – Mas aqui não é lugar de falar sobre isso. – Ele pega no braço de Simon com firmeza e começa a sussurrar aos seus ouvidos – não está vendo que está todo mundo nos olhando?

O garoto joga a cabeça para o lado mudando a posição da franja. Ele vê todos com os olhares afiados em ambos.

“Estão discutindo o relacionamento? Até imagino o que vão dizer quando descobrirem que esses dois aí namoram… coisa que agora é obvio”.

Simon assente e se cala, mas em seu fundo, uma raiva começa a brotar, e coisas a se questionar: “Porque diabos ele se importa tanto com a opinião dos outros? Não é apenas nós sermos felizes?”.

O roçagar das roupas úmidas eram o único som que era ouvido até a chegada em frente a uma casa feita de pedras brancas, tinha em volta da residência, uma cerca alta e clara de metal grosso.

– Entrem – disse a moça a abrir o grande e pesado portão branco com um molho de chaves a virar.

Edwar dá um passo atrapalhado, e na protuberância do ferro ao solo, ele tropica. Roda os braços para não cair de boca ao chão, mas ligeiramente, Ilan pega em uma das mãos do garoto fazendo o mesmo se equilibrar novamente.

– Criança atrapalhada. – sussurrou o rapaz para ele mesmo a fitar Edwar com os olhos semicerrados.

O garoto loiro passa a mão na franja, colocando-a do lado, seus lábios levemente se torcem e suas bochechas enrubescem.

Mais alguns passos para dentro do jardim mal cuidado, Kastemyra tilintava novamente as chaves para abrir a porta central da casa. No interior da mesma, a presença de arandelas com velas bruxuleantes, uma grande mesa de madeira, e uma aconchegante lareira que iluminava toda a sala.

– Sentem-se – ofereceu a bibliotecária a gesticular para as cadeiras ao redor da mesa.

Sem demora, todos se aconchegam. Ficam por alguns segundos se entreolhando uns aos outros, com mais frequência, para a dupla que antes discutia a sussurros.

Um ronco estomacal ressoou em toda a sala, como um rugido de leão.

– Está fome Edwar? – perguntou Kastemyra a rir. – Irei trazer uma sopa.

Toda a cara do garoto de pele clara enrubesce.

– Não adianta ficar vermelho. – ressaltou Kastemyra se retirando. – Já volto.

Quando os roçagares da túnica branca e vermelha da moça cessou, Ilan abre a boca.

– Garotos namorando? – questionou olhando com os olhos quase fechados à Hariel e Simon. – Patéticos e pecantes. – concluiu.

O jovem de cabelos longos e azulados se levanta empurrando a cadeira e a bater com o punho cerrado na mesa de madeira.

– Quem é você para falar isso, seu merda! – vociferou com fúria a transbordar.

Ilan cruza os braços, e com uma das mãos, ascendeu seu óculos para entre os olhos.

“Briga? Tomara que esse cara de cabelo de mulher bata nesse cara chato”.

– Não Hari – pediu Simon esticando a mão na direção dele. Hariel da à volta na mesa, pega no colarinho de Ilan e forçando-o para cima. Ilan engole seco, mas sem pensar, joga seu joelho contra Hariel, chocando-o nas partes mais baixas.

– Ahh – berrou de dores Hariel jogando Ilan para trás.

– Nunca mais me toque, seu ajudantezinho de pedreiro. – intimidou xingando-o.

Os olhos azuis de Hariel brilhavam de ódio, seu cenho franze e suas prezas são mostradas. O mesmo impulsiona seu corpo para frente e cerra seu punho rumo à face de Ilan.

“Bate, bate, bate nele. Gostei desse cara cabeludo”.

– Palavra de Movimento: Istésh! – Berrou Kastemyra.

Todos a observam a quase dez metros, em meio a uma porta, com um braço esticado e com a mão da mesma espalmada, com a palma em direção à Hariel.

O atacante estava com apenas um pé no chão, seus cabelos ainda dançavam no ar, mas nenhum de seus músculos se mexia. Estava paralisado.

– Será que não posso deixar vocês por nem dois minutos que já estão brigando? – perguntou ela enraivecida – E ainda por cima, mal se conhecem. – Kastemyra a andar até Edwar, estala os dedo. Com o som produzido, Hariel cai ao chão, mas logo se levanta.

– Aqui está Edwar, coma bem. – desejou a ele a colocar uma caneca grande e branca sobre a mesa frente ao menino. – Vou buscar mais quatro, e espero não ter que voltar para acalmá-los! – intimou-os com o cenho franzido.

Hariel volta a se sentar, mas ainda, em suas veias, fervia a vontade de esbofetear a face lisa de Ilan.

Um tempo se passa, os sons da comilança de Edwar se espalhavam, até que Kastemyra aparece com as ultimas duas canecas de sopa. Todos agora estavam a saborear.

– Bem… vamos começar! – ela pronuncia a repousar as canecas na mesa. Kastemyra senta. – Vou explicar algumas coisas básicas: Primeiro: Eu sou uma Guardiã das Letras. Segundo: Eu protejo a biblioteca onde estávamos de todos os males contidos nos livros, caso eu não faça isso, os vilões e os Derradeiros de todos os livros da biblioteca saem de suas casas, ou seja, de suas letras de tinta. – tomou um pouco de sopa que exalava um cheiro e fumaça agradáveis.

– Quer dizer que eles saem de dentro dos livros para atacar as pessoas? – perguntou Ilan com uma sobrancelha alta.

Kastemyra anui confirmando.

– Terceiro: Acho que vocês não sabem ondem estão, mas aqui é a dimensão de um livro.

Ilan, ao ouvir, se engasga com a sopa e Edwar arqueia a cima as suas sobrancelhas.

– Cof. Cof. O que? Quer dizer que estamos dentro de um livro?

– Sim, vocês foram sugados pelo livro matriz dos Guardiões das Letras. – Kastemyra gesticula com uma mão em sua própria garganta, fazendo cessar a tosse de Ilan – O Lendário Livro Karnaban. Quarto: Nenhuma pessoa humana pode ser sugada para dentro dessa dimensão.

– Tá nos chamando de E.T.? – perguntou sarcasticamente Edwar. A jovem apenas ri.

– Não, não sei bem ao certo, mas estou dizendo que vocês quatro tem alguma coisa que os outros humanos não tem. – Kastemyra repousa o dorso de sua mão ao centro da mesa, deixando a amostra seu pulso – Veem isso?

Todos assentem. Era um retângulo de pé e ao centro dele, uma estrela de oito pontas, no meio desta, duas chaves em forma de “X”.

– Humanos não podem ver isso, é invisível aos olhos deles. – voltou a comer a sopa – ela é desenhada com a magia das Letras. Nesse símbolo os Guardiões das Letras é a estrela da luz de oito pontas, eles guardam as chaves de todos os livros, onde estes são o retângulo. Mais alguma dúvida?

– CLARO! – Todos berram.

O vento sopra forte lá fora, e de repente, uma estridente pancada soa, quase derrubando a grande porta de madeira. Todos se levantam escutando o grunhido e depois um urrar ferozes.

– Rápido – pediu Kastemyra – cuidarei disso, vão para lá – apontou para a porta que antes estivera – e do lado direito tem vários quartos. Vão e descansem.

Eles ficam parados olhando para ela na frente da porta.

– Ficaremos bem, é só mais um Derradeiro. – pronunciou Kastemyra suavemente.

Por mais uma vez, a porta é golpeada e um estrondo é ressoado.

– Agora vão!

“Um Derradeiro teria forças para bater assim? Ela vai conseguir nos proteger?”.

Lucas M da Silva
Enviado por Lucas M da Silva em 12/07/2013
Código do texto: T4383063
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