Os Letraks - Cap. 1
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Ilustração do Cap.: http://fc09.deviantart.net/fs71/f/2013/192/7/3/cap_1_by_rarameth-d6d2wzv.jpg
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Os Letraks, por Lucas Monteiro
CAPÍTULO 1 – Farfalhar de Letras
– Edwaaaar! – um chamado é ressoado por todos os cômodos da casa.
“Ai, e agora? O que aquela chata quer?”
– O que foi? – berrou em resposta o menino deitado em sua cama e com os pés apoiados altos na parede.
– Venha cá! – retrucou uma voz feminina a berros.
“Droga!”
O menino de cabelos loiros se levanta, ajeita seu capuz branco, joga a revista sobre a cama desarrumada e começa a abre a porta de seu quarto.
“Não acredito que ela veio mais sedo, aquela chata tinha que estar na casa do namorado ainda”.
Com as mãos aos bolsos da jaqueta amarela, fazia caras e bocas cômicas enquanto descia as escadas com carpete. Os olhos azuis perdem o brilho quando vê a jovem em sua frente. Com desdém, Edwar vai até ao centro a mesa, e do centro, pega uma maça verde da fruteira. Uma mordida abrupta que faz jorrar ao alto, alguns pingos de suco da fruta.
– O que você quer agora, Lylin? – perguntou o garoto com os olhos semicerrados.
– Bem… – fez uma pequena pausa com um sorriso – como sou sua irmã mais velha…
“Ham… Não acredito! O que ela vai me mandar fazer?”
– …você poderia ir lá na biblioteca devolver este livro que acabei esquecendo? Está vencendo os dias de empréstimo! – ela pega o livro e suas sobrancelhas se ergueram – Por favor, meu lindo irmãozinho! Você é tão queridinho, tão amável!
“Bajuladora implacável, nem eu posso com ela, aliás queria sair de casa mesmo, essas férias de verão estão chatas estando apenas no quarto”.
– Tá bem, tá bem. – outra mordida na maça.
– Sério? – perguntou Lylin desacreditada.
– Uhum – Edwar passa uma expressão fria com sua irmã a pegar o livro de capa vermelha. – To indo!
Os carros passavam rapidamente nas ruas, os pombos a voar e a defecar nos humanos, rotina comum de um dia comum.
Edwar adentra na biblioteca com passos rápidos, no balcão uma mulher com óculos redondos e seu cabelo prendido atrás de sua cabeça.
– Olá? – cumprimentou ela lentamente e com uma voz m pouco rouca.
– Ah, olá! Gostaria de devolver esse livro, por favor! – entregou o mesmo a ela.
Ela assente com a cabeça e começa a pesquisar em seu computador. Edwar olha para seu lado esquerdo e vê as prateleiras, e uma janela que desta escorria raios do sol até o chão. As partículas de poeira eram avistadas na luz. Mais alguns segundos se passam, e de alguma maneira aquelas prateleiras recheada de variados livros o encantava.
– Pronto garoto – informou a mulher – só assinar aqui – mostrou com a ponta da caneta o lugar a se assinar.
O som de rabiscar na madeira ecoava por toda a sala da frente.
– Pronto! – continuou ela – se quiser pode ir dar uma olhada nos livros ali dentro, garoto. – sorriu, mas seus olhos tinham um brilho intenso, ocultando algo.
Sem mais demora, Edwar com passadas ligeiras, vai onde a luz batia na madeira.
Olha para o lado e vê um homem jovem com um livro aberto, frente a uma prateleira e mais ao fundo, outro de cócoras, mas este não era um leitor, estava medindo a base das madeiras.
“Pensei que estava vazia”.
O leitor aparentava ser um professor, usava óculos, tinha cabelos castanhos e usava um paletó cinza e camisa branca, já o outro, tinha cabelos longos e azulados, este, usava uma regata negra e um calção branco com bolsos protuberantes.
Edwar passa entre as mesas no centro dos largos corredores centrais, depois de algumas passadas, para em frente de uma grande prateleira, ficando entre os indivíduos, pega um livro e passa os dedos na capa de couro marrom. Abre a primeira página e um cheiro de livro velho transbordava para a face do menino.
“Aqui só tem coisa velha e suja, odeio bibliotecas assim”!
Passos muitos rápidos são ouvidos na sala da entrada, eles começam a velozmente adentrar. No corredor, surge um rapaz de cabelos escuros e colete e camisa formais a segurar uma carta. Edwar coloca o velho livro deitado sobre os outros da fileira.
– Ei! – ressoou um sussurro – o que você fez menino? – perguntou o rapaz de óculos e paletó cinza a Edwar.
– Be… bem – falou sem jeito coçando a cabeça – alguma coisa errada?
– Claro – diz o rapaz com tom irritado e com seu cenho a franzir – Não se deve recolocar um livro deste modo.
Com uma mistura de sentimentos, envergonhado e irritado, Edwar pega o livro de couro marrom e recoloca-o de modo correto entre os demais.
“Que cara mais arrogante e idiota”.
O jovem com a carta vai até o rapaz concentrado de longos cabelos azulados.
– Hariel! – chamou o rapaz com tom de impaciência a alguns passos até o de cabelos longos.
Todos se viram com os cenhos franzidos ao olha-lo.
“Até eu sei que não se devem gritar aqui dentro, essas pessoas estão cada vez mais idiotas”.
O rapaz pronunciado se levanta girando sobre seus calcanhares. Suas sobrancelhas arquejam para cima a observar a carta da mão da pessoa em sua frente.
– O que você faz aqui, Simon? – perguntou brincando com uma trena na mão.
– Você ainda pergunta Hariel? – ele joga a carta no tórax do mesmo. Rapidamente começa a se retirar, indo para a saída.
– Espere! – pediu Hariel envolvendo sua mão livre em um dos antebraços de Simon. – Eu quero apenas o seu melhor, quero que você pare de ficar chorando!
“Ficar chorando? Esses dois são o que estou pensando?”
– Seu idiota! – Simon vocifera aos berros virando-se para a face de Hariel. Ambos se entreolham tristemente, um vento passa sobre os cabelos de Hariel, esvoaçando-se, com Simon, sua roupa formal roçagava entre as mesmas.
“Vento? Como ele entrou aqui?” – Edwar apenas observava os outros livros enquanto prestava o máximo de atenção com os ouvidos.
O homem de óculos chega perto de ambos e sussurra:
– Aqui não é lugar para brigar, seus mal educados! Parecem que não sabem nem a regra de uma biblioteca!
Ambos que se enfrentavam se entreolham novamente e depois fitam ao professor. Hariel se sente intimidado, soltando o antebraço de Simon.
– Quem é você? – pergunta arrogantemente Hariel.
– Sou Ilan. – empurrou com o dedo indicador seus óculos para mais acima de seu nariz que outrora estava na ponta.
Nas costas do professor intimidador, cai do alto da prateleira, um fino livro de capa amarelada.
Abruptamente todos olham para o chão e em seguida ao alto.
– O que foi isso? – perguntou Edwar se juntando ao trio.
– Biblioteca assombrada? – perguntou Hariel com um sorriso sarcástico.
– Ora, essas coisas de assombrações não existem, a ciência explica tudo! – retrucou Ilan cruzando os braços.
Ao lado, uma mesa quadrada, e sobre esta, um gigantesco e grosso livro fechado. Sua capa era de couro surrado, nos cantos, um detalhe de metal dourado.
– Que livro é esse? – questiona-se Edwar em voz alta.
– Nunca o vi – respondeu Ilan acompanhando o garoto curioso.
– Tenho trabalho a fazer Simon – sussurrou Hariel aos ouvidos de Simon a girar a trena na mão – conversamos depois, em casa!
Simon gira sobre seus calcanhares com a testa e a boca inundados de raiva.
Edwar leva a mão para pegar na grossa capa do livro, mas de repente, o livro se abre ao meio sem ao menos tocarem nele.
Ilan e o garoto dão três passos para trás, seus corações se aceleram e começam a engolir seco. Hariel que se virara para voltar ao seu trabalho é surpreendido com a reação da dupla.
– O que foi? Vocês dois parecem que viram um fantasma.
Simon já alguns passos vira-se e vê o que acontecia, o mesmo volta e encontra com seus olhos o livro a folhear-se sozinho.
Os quatro ficaram paralisados, sem saber o que fazer vendo aquilo. Apenas o som da forte respiração e o roçagar das grossas folhas se mexendo eram ouvidos no ar.
A janela sobre a mesa com o livro se abre sobrenaturalmente, deixando a luz do sol inundar a área, o amarelado atinge o livro que farfalhava fantasmagoricamente.
“Bruxaria, maldita irmã”.
Fios de luzes amarelas e fumaça com tom do belo amanhecer começaram a emanar do livro. Palavras e símbolos desconhecidos sobrevoavam brilhando o ar, um vento rotatório começa a se formar, cada vez mais forte. Nenhum deles conseguia dar um passo, por mais que quisessem. As letras saltavam no livro a folhear ferozmente, parecia que todos estavam no meio de um tornado de luz, com fumaça amarela e letras a rodopiar no céu.
Edwar começa a sentir lagrimas a brotar dos seus olhos, mas faz esforço para não libera-las. De repente, uma explosão de luz tão forte quanto a do sol se estende a todos, deixando os quatro cegos e um sentimento de tontura.
Rapidamente a luz se contrai de volta ao livro, fazendo o mesmo se fechar abruptamente, o som das paginas se fechando são altas como um estrondo de pancada na mesa.
Tudo volta quase ao normal, as prateleiras com alguns livros mais a frente, por causa da pressão do vento. Do alto, uma folha amarelada caía em zig-zag no ar, a mesma pousa suavemente ao chão.
No local que outrora fora fato de uma coisa fantasmagórica e sobrenatural, agora havia apenas os livros nas prateleiras, as mesas e as janelas a deixar a luz inundar a biblioteca. Os quatro rapazes estavam desaparecidos como se ficassem invisíveis.
“Onde estamos?”
Na sala de entrada a recepcionista arruma os seus óculos a sorrir, do mesmo modo que antes sorrira para Edwar.
– A magia, – sussurrou ela andando até a mesa do enorme livro – eu sabia que nunca estava acabada, eu já estava sem forçar para manter tudo em ordem. – disse ela passando suavemente sua mão na capa rústica – Bem… agora, que tudo comece!