Episódio na Viagem
EPISÓDIO NA VIAGEM
O ônibus executivo viajava apenas 60% de sua lotação. Passageiros bem vestidos e educados. Viagem tranqüila, estrada relativamente boa, a temperatura ambiente em torno de 28graus. As cortinas e a vedação das janelas favoreciam para o ambiente ficar agradável. Uns mais agasalhados alguns dormindo, outros conversando baixinho, outros olhando pela janela a vegetação verde da estrada ou fitando o céu que ora escondia o sol com nuvens pesadas e ora o apresentava muito forte.
Tudo as mil maravilhas, até que um cheiro desagradável contamina o ambiente. As meninas que vinham no banco da frente se entreolham e riam como perguntando quem foi o responsável do feito? O casal que vinha um pouco atrás disfarça discretamente ponto a mão no nariz. A magrinha de ventre delgado com certeza estava isenta de suspeita. Parecia alimentar-se só de rosas, portanto seus gases deveriam ser perfumados. A senhora octogenária também não era a responsável, sua alimentação deveria ser saudável em virtude da idade. Não cometeria tal estrago.
O gordinho brincava com o celular como se nada de anormal tivesse acontecido. Não colocou a mão no nariz, não franziu a testa, nem trocou olhares indagadores para saber quem seria o dono do mau cheiro.
Ao arriscar um olhar para o ambiente percebe que todos os olhares estão voltados para ele. Como se todos apontassem o dedo indicador para sua direção dizendo: foi você.
Com a mesma “cara feliz” comum a todos os gordinhos, retoma seu joguinho no celular.
Ao arriscar a segunda olhada para a platéia, observa um cara malhado, que usava uma camiseta bem rasgada exibindo seus músculos avantajados, aproximar-se de sua poltrona em passos lentos com o jeito de quem iria agarrar-lhe pelo pescoço e jogar-lhe pela janela a janela com todo o fedor que tinha produzido.
Levantou-se rapidamente assustado, colocou as mãos pra cima e disse:
- Juro que não fui eu. Comi feijoada antes de ontem e ovo com salada de repolho segunda – feira. Hoje é quarta.