PROTÁGORAS, DILMA OU PAPA FRANCISCO?
Para lecionarem sobre produção de texto argumentativo, bons professores de Língua Portuguesa precisam de entender não apenas de dialética, para que possam ensinar sobre elaboração de teses, antíteses e sínteses, mas também de tudo o que precede a argumentação: os sofistas, as leis do silogismo aristotélico, as falácias e os sofismas.
Esse texto não pretende ser uma aula de Filosofia, até por que meus conhecimentos acerca dessa maravilhosa ciência não são vastos. Busco, tão somente, fundamentar o título dessa crônica e por isso escolho iniciá-la escrevendo sobre os caras, que, dizem, inspiraram o nascimento do Direito e da Publicidade e Propaganda: os sofistas.
Eles surgiram na Grécia antiga, entre os séculos IV e V a. C, após o surgimento da democracia, vindos de cidades adjacentes. Donos de uma eloquência formidável, os sofistas ensinavam a arte da retórica, garantindo o sucesso dos jovens na vida política. Na verdade, eles fascinavam as pessoas que ouviam suas palestras e ensinavam-lhes (mediante pagamento) como transformar um argumento fraco em um forte e vice-versa, como refutar os dos adversários, não se preocupando com a relação que as palavras tinham com as coisas, articulando-as de acordo com as necessidades do debate, visando a persuadir e derrotar os oponentes. Para eles, era fácil convencer conforme os interesses, provando que uma mesma coisa ora era “assim”, ora era “assada”. Talvez por isso, os argumentos tortos, com interesses escusos são chamados, até hoje, de “sofismas”.
Um dos maiores sofistas foi Protágoras de Abdera, o sujeito que disse que: “o homem é a medida de todas as coisas”. Se ele ainda fosse vivo, amparado em um relativismo moral, ele diria que a verdade depende de como as coisas parecem ao juízo de cada um, ou seja, que o que é verdadeiro para alguém, pode não o ser para outrem. Em seu pragmatismo imediatista, o sacana pregou, ainda, que se algo nos parece bom, devemos fazer; se nos traz benefício, mesmo que cause prejuízo aos outros, devemos fazer assim mesmo.
Acho que Protágoras fez escola e conta com muitos descendentes até hoje, embora haja aqueles que se confundam. Refiro-me aos tolos, aos falaciosos, cujos argumentos são inconsistentes e não passam pelo crivo das leis do silogismo. De qualquer forma, diante dos grandes debates nacionais, eu me recordo de tudo isso para analisar o que leio ou ouço.
No dia 08 de julho de 2013, assisti ao discurso feito pela Presidente Dilma Rousseff, durante o lançamento do “Programa Mais Médicos”, dizendo, entre outras coisas, que espera que “os médicos brasileiros atendam ao chamado do governo para trabalhar no interior do país e nas periferias das grandes cidades, mas que, se não houver interesse, o governo vai buscar os bons médicos onde eles estiverem”. Em dado momento ela anunciou os três desafios que sabe que terá de vencer: 1º: construir UPAs, postos de saúde e hospitais bem equipados, reformar e ampliar os que já estão funcionando; 2º: garantir que a imensa rede de saúde funcione direito, com métodos corretos de gestão e controle; e 3º: suprir a rede com profissionais em quantidade suficiente para atender, com qualidade, não apenas os que têm a sorte de morar perto de hospitais públicos de referência,mas também nos rincões mais longínquos e desassistidos do nosso país e que não têm acesso a nenhum profissional de saúde.
Se há algum interesse escuso por trás desse discurso eu ignoro, mas me pareceram bastante humanitárias as intenções de nossa mandatária-mor. Talvez estejam certas as pessoas que veem empecilhos, que pregam que os profissionais de outros países tenham de se submeter ao “Revalida”, e/ou aquelas que condenam a proposta de acréscimo de dois anos na formação médica, cumpridos dentro do SUS, independentemente se a inspiração veio de modelos de dois países de primeiro mundo: Inglaterra e Suécia.
Ouvi o argumento do Dr. Adib Jatene, acerca da vocação voltada para o social, necessária à formação médica, e me lembrei das pessoas que pregam o mesmo em relação aos professores. Na verdade, entendo perfeitamente as antíteses, pois também na educação, entre os aspirantes a professores, existem aqueles que consideram um absurdo ter de estagiar em escolas de periferia, atendendo a crianças frutos de famílias completamente desestruturadas. Talvez eles tenham razão em pensar assim, pois não se sentem em débito com a sociedade, já que, em sua maioria, eles são oriundos de escolas públicas, e como tal, dificilmente, conseguem ingressar em universidades públicas, bancadas pelos impostos de todos os contribuintes.
Diante do que tenho lido e ouvido, externo minha solidariedade aos médicos. Àqueles que sofrem muito por trabalharem em hospitais públicos, aos que são assíduos, aos pontuais, aos que cumprem seus horários, aos que se preocupam com os pacientes que estão aguardando nas filas, com os que se angustiam ao verem os doentes pelo chão, com os que buscam, de todas as formas, dar-lhes atendimento e tratamento decentes.
Esses podem não ser religiosos, mas não agem por força de argumentos protagorianos ou dilmaianos, agem por suas crenças, que devem coincidir com o seguinte pensamento: “Não pode haver verdadeira paz se cada um é a medida de si mesmo, se cada um pode reivindicar sempre e só os seus próprios direitos, sem se importar ao mesmo tempo com o bem dos outros, o bem de todos, a começar pela natureza comum a todos os seres humanos nesta terra” (PAPA FRANCISCO)