A MINHA AMIGA QUE VIROU PASSARINHO

Jamais dei importância quando Senira me dizia que quando morresse queria virar passarinho. E ela sempre me dizia isso. E eu, muitas vezes até a incentivava... "serás uma bela passarinha de biquinho branco e pluminhas cor-de-rosa." A nossa turma sempre a julgou até etérea, muito mais ligada às coisas de cima que as daqui desse mundo deprimente. Mas virar passarinho...

Vieram os diversos caminhos e cada uma de nós seguiu seu rumo.

Novos horizontes, novas amizades, nova vida. E tudo acabou ficando esquecido no tempo. Já nem me lembrava mais do fato.

Eis que dias atrás, num domingo precisamente, costumando deitar-me após o almoço, fiquei a observar a minha janela, o vento na folhagem de uma goiabeira no quintal da casa. Tão absorta estava que custei a observar um pequeno beija-flor, nas florinhas ali existentes. E tanto olhei que acabei descobrindo que ele não se afastava e parecia estar me olhando, sorrindo para mim. Fiquei parada, incapaz de mover-me olhando o pássaro. E ele não mais se acercava das flores mas sim fazia um ballet que eu não entendia, perto da janela. De repente lembrei-me, as plumas, beija-flor não tem plumas, muito menos cor-de-rosa. E aquele tinha. Era estranho... Senira, Senira é você? Como pode ser! Levantei-me apressada, tentei pegá-lo mas ele fugiu e desapareceu. Deitei-me novamente na esperança da sua volta. Mas em vão. Fiquei o resto do dia pensando no fato.

No outro dia, resolvi ligar para uma amiga e perguntar se sabia da Senira. " Mas você não soube? Faz 3 dias que ela faleceu. Lembra-se do seu coraçãozinho frágil? Pois é, numa cirurgia no Instituto do Coração ela não resistiu!" Gelei até a alma. Ela cumpriu o que prometeu!