Estrangeiros e Maluco Beleza

Após um começo de dia desolador, resolvi caminhar um pouco indo até a padaria mais longe do bairro. Ao entrar na padaria, me deparei com dois homens e uma mulher de meia idade, negros. Falavam bem rápido, era difícil compreender. Estava bem nítido que eram estrangeiros. Dialogavam uma mistura de ‘los’ e ‘las’ distribuídos em meias palavras em português e silabas pronunciadas com dificuldade. Que denunciavam a vontade deles, de a qualquer momento se comunicar apenas por gestos.

Eu estava logo atrás deles na fila, que azar. Eles estavam pedindo uma infinidade de coisas. Tudo que perguntavam o preço, não importava o quanto custasse, levavam. Enquanto isto, os atendentes revezavam em entender o que eles pediam e tentar responder com o mínimo possível de gestos. Eles provavelmente se lembrarão de mim, repararam em minha presença assim que entrei, não somente por estar atrás deles, mas por conta do contraste causado por toda minha ‘polaquisse’. Não só por isto, mas eles resolveram tirar fotos dentro da padaria, eu devo ter saído em pelo menos umas três. Reparei que saí de perfil na última, realmente fico bem naquele casaco, deveria ter pedido que me enviassem a foto.

Depois que fui atendido, sai da padaria repassando mentalmente algumas frases que ouvi, afim de tentar entender. Atravessei a rua distraído. Meus fones de ouvido, no último volume, berravam ao som de “Inside the fire” do Disturbed. Contra mim, vinha descendo um homem com mais ou menos minha estatura, pardo e os poucos dentes que deixou aparecer, amarelos. Tinha lábios grossos, assim como o nariz. O canto da boca estava levemente sujo, por algo que parecia frango ao curry. Não me recordo de ter sentido odor algum. Enquanto eu atravessava a rua, em direção a este homem, ouvindo a voz impávida de David (vocalista) , ele acenava para mim com um panfleto grande em mãos. Ele dizia algo e acenava para que eu me aproximasse. Chegando mais perto, pude perceber melhor a estatura do sujeito, realmente era um pouco mais baixo que eu. Portava de uma bolsa e um paletó que já deve ter sido mais claro, hoje tem mais cor de bege encardido que burro na lama. Não houve tempo para notar mais detalhes, quando já estava a mais de um passo afastado, decidi tirar um dos fones da orelha e ouvir. Ele mantinha o aceno no mesmo ritmo e parecia balbuciar a mesma coisa várias vezes: “Ei, psiu! Tome cuidado com a mulher de vestido vermelho”. Impressionado com o momento, apenas respondi “Tudo bem” e segui com minha caminhada à passos rápidos. No caminho de volta, refleti sobre duas coisas. Primeiro, se ele realmente disse “vermelho” ou se foi coisa da minha imaginação, estou pendendo para a segunda hipótese. Segundo, se ele realmente disse tudo aquilo e devo tomar cuidado ou devo esquecer. Sobre este, ainda não decidi o que fazer. Além disto, creio que os estrangeiros se lembrarão por um bom tempo de mim, estou nas fotos deles rs. Mas talvez, nunca descubram que agora fazem parte de uma crônica.

(Verídico – 09/07/2013 )