REFLEXOS MATUTINOS
De repente a manhã tocou o rosto cansado de um pedaço de corpo esparramado numa cama solitária. O cabelo espalhafatoso e inerte configurou a imagem de uma alma vazia e desesperançada... Foi assim que me senti esta manhã. Me levantei, fui ao banheiro e enfim, pude ver o resultado do tempo em meu rosto funesto. Num ato impensado, coloquei-me a falar com o meu reflexo:
__ Não tô legal, né ? Às vezes sinto tanta falta de mim mesma. Saudade mesmo, de me olhar, de chorar, de fazer careta, sorrir sem motivo aparente, essas coisas que só os malucos fazem, sabe ? Bom, se maluquice for sinônimo de auto-conhecimento, então estou doidinha da silva... Hoje não é um dia qualquer. Estou aqui viva, e mesmo descabelada e muito cansada ainda estou inteira. Inteira para um bom dia sincero, um abraço gostoso, meu Deus!!! Abraçar quem ? Por quê ? A resposta veio logo em seguida. Olhei para minhas pernas e notei que estavam funcionando bem. Meus braços em perfeito estado também. Meus olhos estavam vendo como nunca, minha voz solta e cordata estava ali, firme. Meus ouvidos doíam, tamanha estridência do meu eu falando comigo.
Hoje percebi o quanto Deus tem sido bom comigo e eu não tenho prestado atenção. Ao olhar fixamente para meus olhos, comecei a chorar desesperadamente. Aquele era o meu momento, meu espaço para agradecer as coisas boas que tinha e não dava o devido valor. Não sou loura nem tenho olhos azuis, mas meu coração é um posso de possibilidades. Possibilidade de perdoar, de abraçar, de querer bem, de agradecer, de amar e tantas outras coisas que eu nem imaginava que estavam ali ao meu alcance.