DO LIXO À MÚSICA

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"É um som que me acalma. Se vou pra cama, durmo que só!". Não tivesse vindo da boca da vendedora ambulante Victoria Ortiz, diria que a frase teria sido escrita por um poeta inspirado, E mais outra: "Eu e minha família choramos de emoção. Os vizinhos correm à rua para ouvir", da catadora de lixo Mirian Cardozo. Quer coisa mais poética do que isso?

Quem foi que disse que do lixo e no lixo só se encontram miráveis? Também podem ser encontrados Bethoven, Wagner, Mozar, Chopan, Vivaldi em forma de música! No meio tudo, que tal um Vinicius de Moraes e sua “Garota de Ipanema”?

Tudo o que parece ser, é...mas do lixo, através do sonho de um técnico ambiental que transformou barril de óleo e garfo em violino de lata, violoncelo de tambor...Todos os instrumentos do lixo viraram música e sonhos realizados, com promessas de futuro para muitos jovens carentes que sonham seguir a carreira musical! Portanto, pensem duas vezes antes de dizer que somente a miséria vive do lixo!

Isso, no Brasil, em parte, continua sendo verdadeiro, mas não é o mesmo que está acontecendo em Ceteura, uma favela do Paraguai, com metade das 25 mil pessoas que vivem no local sendo de crianças de 11 ou 12 anos, que aprenderam a ser pais e mães de seus irmãos menores. A ideia de Flavio Chavez, que fundou, dirige e, como maestro, comanda um grupo de jovens na orquestra “Los Reciclados” é inovadora, corajosa e muito inspiradora para outros países em desenvolvimento. Tudo o que têm para tocar foi construído do lixo e com o resto de lixo. O projeto deu tão certo que os músicos já se apresentaram com seus instrumentos reciclados em vários países, dentre eles o Brasil, Holanda e Argentina.

Com o projeto, crianças que viviam catando o lixo, passaram a ter uma vida melhor, sonhar e gostar de música e já rendeu até um filme com o título em inglês de “Landfil Harmonic”. O filme mostra o poder transformador da música e serve de alerta sobre temas fundamentais nos dias de hoje, principalmente no Brasil, como pobreza, poluição ambiental e o desperdício em igarapés e rios das grandes metrópoles, de resíduos reaproveitáveis. Que a ideia sirva de inspiração aos países do terceiro mundo, os subdesenvolvidos e os que desejam implantar orquestras musicais, porque está provado que, com determinação, coragem e muito amor pelo que se faz, no lixo e do lixo podem surgir músicas com instrumentos musicais com som afinal.

É “latoso” o som, como disse o criador da orquestra, mas só em pensar que “um violino (verdadeiro) custa mais do que as suas casas” e que tudo pode ser conseguido do lixo e no lixo, é um sonho realizado com certeza, para o maestro e para todos os jovens que passaram a gostar de músicas orquestradas também. Estranhos ao primeiro olhar, mas os instrumentos cumprem a sua finalidade e sua função social: retirar jovens que cataram lixo e, lhes dar uma oportunidade de, com a música, continuar sobrevivendo com dignidade. Mesmo advinda do lixo, a orquestra agora precisa de fundos e apoio financeiro para continuar existindo!

Como assistente social, fiquei profundamente tocado pelo projeto, e fico me perguntando: como não tive essa ideia antes quando eu era diretor regional do SEST/SENAT em Manaus? Pretendia implantar o curso de música na instituição e deixei de fazê-lo por falta de instrumentos musicais que eram e ainda são caríssimos. Desenvolvi muitos projetos sociais, mas, confesso, nunca pensei que seria tão gostoso e agradável ouvir músicas retiradas de instrumentos musicais construídos com lixo, apenas!

carlos da costa
Enviado por carlos da costa em 08/07/2013
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