UM SER ANIQUILADO - FINAL
Dia e meio depois do adeus aniquilador, o afago. Ou prenúncios em brisa acariciante. Paisagem física externa estabilizada, eis que ela me envia: duas mensagens consecutivas de texto. Uma, pedindo desculpas; outra, assumindo como desproporcional a atitude que tomara.
Uma pausa e três outras mensagens. Estas, com áudio. A vozinha meiga e algo trêmula denotava a emoção e o medo. Temor de que a receptividade fosse adversa. Em uma, um simples "perdoa!". Para ela, senhora de si e sempre absolutamente imbuída do acerto de suas atitudes, a palavra, que em seu vocabulário era de uma raridade comparável à de vegetação no deserto, soava como um extremo de concessão. Eu, ruminante de minha própria mágoa, ainda optava pelo silêncio - malgrado o interior em marcha célere para o esfacelamento.
Na segunda, uma explicação, ou tentativa de justificar: "Tudo o que fiz foi por ciúme".
- Melhor assim - respondi laconicamente para, instantes depois, alongar-me na resposta e, de par com as palavras digitadas, mandar um aceno de desarmamento. O armistício: - Melhor que tenha sido por ciúme. Além do afeto nele contido, não deixa margem para supor que tenhas sido motivada por um rancor capaz de tornar impossível um simples diálogo. Mesmo apenas amigável que seja, e lá à frente, no futuro...
Terceira mensagem com áudio que enviou: "Eu te amo! Ontem não fui trabalhar e hoje estou me sentindo mal, tudo por tua falta. Não posso mais viver sem ti. Me perdoa...".
- Não fique pedindo perdão...quer voltar?
Depois da pergunta que estava na agulha, mas travada pelo orgulho pessoal e - desconfio - inerente ao ser masculino, a indagação em voz que ainda se fazia sentir claudicante:
- Está perguntando por quê? Por dó? Pena? Preocupação com meu lado emocional?
- Não! Porque também te quero.
- Não vai fazer nenhuma exigência?
- Que exercites a capacidade de dialogar e nunca se exaspere à primeira e ínfima contrariedade.
O bom tempo que fazia para além do limiar da janela penetrou em meu quarto e, presto, irradiou min'alma, fazendo o quase frio corpo arder em labaredas.
Um equivoco, ou estou ouvindo o som do interfone? A portaria do condomínio vai anunciar a chegada de alguém?
Dia e meio depois do adeus aniquilador, o afago. Ou prenúncios em brisa acariciante. Paisagem física externa estabilizada, eis que ela me envia: duas mensagens consecutivas de texto. Uma, pedindo desculpas; outra, assumindo como desproporcional a atitude que tomara.
Uma pausa e três outras mensagens. Estas, com áudio. A vozinha meiga e algo trêmula denotava a emoção e o medo. Temor de que a receptividade fosse adversa. Em uma, um simples "perdoa!". Para ela, senhora de si e sempre absolutamente imbuída do acerto de suas atitudes, a palavra, que em seu vocabulário era de uma raridade comparável à de vegetação no deserto, soava como um extremo de concessão. Eu, ruminante de minha própria mágoa, ainda optava pelo silêncio - malgrado o interior em marcha célere para o esfacelamento.
Na segunda, uma explicação, ou tentativa de justificar: "Tudo o que fiz foi por ciúme".
- Melhor assim - respondi laconicamente para, instantes depois, alongar-me na resposta e, de par com as palavras digitadas, mandar um aceno de desarmamento. O armistício: - Melhor que tenha sido por ciúme. Além do afeto nele contido, não deixa margem para supor que tenhas sido motivada por um rancor capaz de tornar impossível um simples diálogo. Mesmo apenas amigável que seja, e lá à frente, no futuro...
Terceira mensagem com áudio que enviou: "Eu te amo! Ontem não fui trabalhar e hoje estou me sentindo mal, tudo por tua falta. Não posso mais viver sem ti. Me perdoa...".
- Não fique pedindo perdão...quer voltar?
Depois da pergunta que estava na agulha, mas travada pelo orgulho pessoal e - desconfio - inerente ao ser masculino, a indagação em voz que ainda se fazia sentir claudicante:
- Está perguntando por quê? Por dó? Pena? Preocupação com meu lado emocional?
- Não! Porque também te quero.
- Não vai fazer nenhuma exigência?
- Que exercites a capacidade de dialogar e nunca se exaspere à primeira e ínfima contrariedade.
O bom tempo que fazia para além do limiar da janela penetrou em meu quarto e, presto, irradiou min'alma, fazendo o quase frio corpo arder em labaredas.
Um equivoco, ou estou ouvindo o som do interfone? A portaria do condomínio vai anunciar a chegada de alguém?