A Aniversariante

Não tenho poderes mediúnicos tampouco consigo enxergar o futuro com exatidão. Posso no máximo, como no xadrez, calcular alguns movimentos na esperança que eles se firmem, conseguindo alguns xeques-mates. Tento racionalizar minha vida ao extremo, às vezes convertendo momentos em procedimentos e alegrias em etapas. Isso me transformaria em um ser previsível, sem graça, certo? Errado! Minha previsibilidade é que é a graça do negócio. Por não ser um bom enxadrista, cheio de jogadas falhas e falsas percepções, meus planejamentos variavelmente têm uma terceira via, nunca saem como ensaiado ou têm o final desejado. Porém, quase sempre melhor que o traçado original. Também consigo me entregar ao acaso, fazendo daquele momento único o melhor, transformando logística em despreparo. Dois exemplos emblemáticos: há muito tempo, quando eu trabalhava de madrugada e meus vizinhos achavam que a boemia me consumia todas as noites, minhas manhãs eram de sono, mau gosto (com o vício que adquiri pelo cappuccino da máquina expressa) e eu só pensava em dormir. Eu e muitos colegas “madrugantes” de trabalho. Mas, no carnaval, enquanto reclamávamos da rotina, Poli e eu, num ato impensado, entramos no terminal do Castelo e fomos tomar café da manhã – a 65 km – em Maricá, de frente à lagoa. Pastel, caldo de cana, areia nos pés, água salgada e um único sentimento para o momento: liberdade. Em outra oportunidade, mais doida, estava “noiteando” com Carlos pela Lapa (ou Arco do Teles?), filosofando à mesa de bar, sobre o frio carioca e como Carlos me achava previsível. Reagi, saímos dali e fomos comprar casacos... no Brás, em São Paulo! Até o último minuto ele duvidou que eu fosse (a proposta partiu de mim) e só acreditou mesmo quando desembarcamos pela manhã na gélida São Paulo, com direito a café da manhã na Avenida Paulista e ele ser enganado na Vinte e Cinco de Março. Hoje ele já não me acha tão metódico assim e pensa duas vezes antes de comprar qualquer coisa perto da estação São Bento.

E qual a relação com a aniversariante? Respondo: tudo. Enquanto vocês, nobres leitores, passeiam os olhos por estas linhas, aguardando um compromisso ou fazendo simplesmente o tempo passar, eu provavelmente me encontro absorvido por angústias e questionamentos. Devo ou não ir comemorar o aniversário da lindeza que me faz suspirar? Agora, uma boa hora para os tais poderes de previsão futurística. Seria bom saber se a noite findará comigo declarando à linda meus sentimentos e ela os seus – depois de trocarmos olhares durante toda a festa – e ela confessar que já estava cansando de me esperar. Ou acabarei a noite sozinho, numa lanchonete comendo esfirra de queijo com suco de laranja enquanto me acho um molenga? Não consigo ser racional. Até prevejo meus movimentos, minhas jogadas de mestre, mas a espontaneidade dela me avexa (e apetece!). Qual seria sua reação? Ah, tenho medo, só em saber que ela nunca mais sorriria para mim já fico claudicante. Beleza pura, meu bichinho bonito, sabias que existe uma música com o teu nome? Se quiser, aprendo rápido tocar violão e faço um recital com ela só para você.

Ela, moça bonita, que distribuiu simpatia e me fez apaixonar. Será que ela sabe que eu ainda sou aglutinado na dela? Sabes moça? Ela passava ao meu lado, o tempo parava, não via mais nada além daquele corpo arrumado, bem disposto em um jeans novinho, daquela blusa comportada e da desenvoltura no caminhar. Muito menos ouvia barulhos, somente o Toc Toc do seu salto Anabela e o Tum Tum Tum do meu coração em desespero. Passávamos boa parte da minha hora de almoço conversando (eu arrumava as desculpas mais bobas para ir vê-la) e ela parecia gostar. Por vezes que eu a chamei para sair e só recebi um “vamos sim”. Quando finalmente consegui, ela nem olhou para mim. Mais tenso que viajar com a minha prima Ju na direção. Na data marcada para a celebração eu já tenho um compromisso, o qual usarei como atenuante – ou desculpa esfarrapada –, caso eu não vença a “Quimera Passione”, ser que me perturba de quando em vez. Ah, amoreco, dá uma deixa, vai. Ajuda um pouquinho esse carinha fugir dessa nebulosa, sair dessa cerração...

Pois é amigos, não sei o que faço, ou se desfaço tudo e vou para Cubatão! Melhor não; vou ficar por aqui, deixar a vida me levar e parar de decidir tudo de antemão. Talvez até troque o xadrez pelo gamão e a praia pelo ribeirão. Só sei disso: gosto muito dessa aniversariante, a quem já parabenizo, pelo ápice da sua juventude, por ser ela um brilho na multidão, por quem eu pagaria juros na fatura do cartão. Bom, só digo uma coisa mocinha, guardo você no meu coração. Feliz aniversário! E tenho dito (tudo isso, de supetão)!

Super Bacana
Enviado por Super Bacana em 08/07/2013
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