Segunda-feira preguiçosa
Por Carlos Sena


 
Diante de mim uma segunda-feira preguiçosa. Distante de mim o desejo de modificar o tempo, como normalmente se imagina que possa. Segunda-feira está batendo na minha cara e eu, que costumo dar a cara a bofete para desafiar a vida, quedo-me e deixo que ela passe por cima de mim... Mas, passe devagarzinho porque daqui a pouco eu me acordo por dentro e posso me dar a volta por cima e por baixo. Afinal, é por cima que a vida se estabelece, mas, é por baixo que as estruturas existem com base de sustentação. Por isso nesta segunda quero-me terça, porque depois será quarta e na quinta vou ver meu amor, porque na sexta... Ah, a sexta-feira feira que tantas frangas soltas abriga para o bem da nossa liberdade enquanto o sábado não se entrega ao repouso do domingo! Assim, de segunda em segunda a vida se costura e faz do tempo uma colcha de retalhos cheias de sonhos. Alguns sonhos ultrapassados por pesadelos de desilusão, outros configurados na ternura da vida nem sempre vã, mas sempre divã das nossas mais ternas venturas.
Diante de mim uma segunda-feira pós “síndrome do Fantástico”. No clima do serrado do Planalto central o frio rompe o agasalho, o alho mistura-se ao bugalho da politica nem sempre ética, enquanto a estética se esforça na elegância dos casacos de frio dessa gente que por aqui habita com tão pouco calor humano. Insano desejo esse meu: de irromper o imaginário térmico da terrinha – tomar um chope gelado e dar um giro no mar de Porto de Galinhas. Subir pela serra e irromper até Gaibu que tantos despeitados lhe chamam de Gaybu. Ouvir a lufa-lufa, o disse-me-disse, andar por Recife a esmo como quem nela gosta de se perder para se gabar de nunca se perder na cidade sua. Olhar no espelho em cada manhã. Fazer do braço um abraço do ser amado; fazer da massa a maçã do rosto e sentir na boca o gosto doce do beijo silencioso da manhã. Amanhã poderá nunca mais ser porque a vida é mágica e tudo poderá desaparecer pra sempre inclusive a vida... Mas, com o aval de Charles Chaplin, “se o amanhã que sempre nos acalentou, renascerá em outros corações”... Enquanto isso desencanto a segunda-feira porque lá fora a vida abunda... Há bunda? Não. Hoje, no meio dessa prosa preguiçosa não quero irromper o politicamente incorreto...