CARTA PARA O TEMPO
CARTA PARA O TEMPO
Realmente, o tempo passa muito rápido que, quando a gente dá conta, ele já está lá na frente nos esperando. A velocidade da vida parece atropelar os nossos sonhos, pois são tantos que, muitas vezes, temos que despertar alguns em detrimento de outros. Não precisamos de espelhos para refletir os anos já vividos; o corpo sente, inevitavelmente, o freio que a vida nos impõe. A juventude é como uma ejaculação precoce, há pressa de viver, há sede de correr atrás de uma coisa que, muitas vezes, nem se sabe o quê.
Ah, a juventude! Essa que nos escancara o mundo, quebra tabus, rasga conceitos, encara tudo sem medo e com o peito aberto. A irresponsabilidade doce de quem quer cometer erros para aprender, o desejo de possuir o mundo, de ser dono da vida, tudo isso o tempo vai deixando pra trás. Deixando pra trás o primeiro amor, a primeira transa, a primeira dor, os primeiros vícios, delírios, anseios, receios, etc... Que saudade da minha infância!
Ah, a infância! Essa que dá a liberdade de falar na cara da vida que ela nos aguarde, que nos suja com lama, que nos faz pular muros e roubar frutas, que coleciona brinquedos. Ah, caiu meu primeiro dente de leite, nasceu meu primeiro pentelho, olhei a empregada nua pela fechadura. Que saudade!...”Menino entra!” Mamãe gritava. “Vai estudar!” Papai falava...Tudo ficou para trás.
Futebol de rua, concurso de piroca, mentiras saudáveis, inocência, mas... a vida tem sempre que ser reinventada, novos sonhos devem sempre nascer. Se a pressa da juventude acabou, a sapiência da idade ajuda a transpor obstáculos. Se o primeiro amor, há muito, já terminou, quantos mais irão terminar e nascer? O coração não pode parar, tem que ser sempre atropelado por emoções.
O tempo nunca vai parar e os nossos passos podem ficar cansados, mas não podemos parar para descansar no meio do caminho. Ninguém sabe, na verdade, quanto tempo a vida nos oferece, por isso, vivamos com um pouco da pureza de uma criança, a rebeldia de um adolescente e a sabedoria de um velho; o resto é vida, só vida...
MÁRIO PATERNOSTRO