A Ocupação

“leve a lua pra longe

deixe o sol bem sozinho

que o mar cubra tudo

pra começar outra vez”

Aluizio Rezende

O dia amanheceu claro e límpido como muitas vezes. Estranho porque em diversos pontos do planeta. Mesmo em pontos com diferenças de fuso horário superiores a 7 ou 8 horas, o sol dava a sua cara. Ainda que de forma mais ou menos tímida. Até nas terras tradicionalmente geladas.

Então tudo começou. Alguns pontinhos negros no céu, espalhados nas quatro zonas principais do globo terrestre, surgiram como se fossem estrelas do dia. Custaram a ser identificados pelos potentes observatórios astronômicos dos países mais desenvolvidos. Nenhum dos grandes cientistas de plantão pode dizer do que se tratava. Também não houve tempo para maiores especulações. Os pontinhos começaram a cair do céu, desintegrando-se ao chegar à nossa atmosfera.

Era talvez o sinal. A partir desse momento, da falsa entrada dos pontos negros na atmosfera terrestre, as ondas em nossos mares começaram a se avolumar, tornando-se progressivamente maiores. No Atlântico, no Pacífico, no Índico. Cargueiros, cruzeiros, contratorpedeiros, sofisticados navios em seus trabalhos de espionagem, todos foram sendo tragados. Sem qualquer chance de defesa. Com os submarinos foi mais fácil. Já estavam no fundo do mar. Os que tentaram subir foram obrigados a submergir de novo, antes que pudessem alcançar a superfície. Seria a face do mal?

Logo os alarmes ecoaram por toda parte. Os ocidentais pensando que se tratasse de uma investida desesperada das potências adversárias. O fantasma de Bin Laden, Guevara, Ho Chi Minh. Nada disso. Todos estavam em apuros.

Ondas com poder destruidor “n” vezes maior do que as que arrasaram Pucket, na Tailândia, começaram a ocupação do planeta. Os aviões que estavam no ar logo perderam contato com a terra e por certo cairiam. Até porque não teriam onde pousar. Mesmo assim, os donos dos maiores conglomerados financeiros do mundo embarcaram no avançadíssimo Air Force One, deixando o Obama para trás com a família. Indicaram-lhe os abrigos anti-nucleares, antimísseis, anti-gases mortíferos, anti-tudo. Mas não adiantaria, porque depois não teriam como sair com tanta água por cima.

As estações extraterrestres internacionais também logo ficariam sem contato com a terra e explodiriam lá por cima. O que aconteceria em poucos momentos com o Air Force One, provocando talvez uma chuva de dólares que agora de nada adiantaria.

Tudo logo estaria coberto pelas águas. Na verdade apenas um quarto de terra. O Burj Khalifa, o mais alto de todos, coberto. Poderíamos pensar depois na Torre Eiffel, na Estátua da Liberdade, no Corcovado, nas Muralhas da China, tudo devidamente submerso.

No limite chegaria a hora de se pensar numa reconciliação. Dos fracos com os fortes, dos oprimidos com os poderosos. Mas antes tentariam salvar a população de seus países. Depois os ativos bancários, o ouro em Fort Knox ou em outros lugares e as fortunas pessoais. Finalmente a própria pele, que ninguém é de ferro.

Certos cientistas teriam ainda tempo de imaginar, o que contrariaria suas convicções físico-matemáticas, que aquele aguaceiro todo pudesse finalmente vencer a força da gravidade e começasse a respingar em outros mundos.

Mas não foram capazes de ter o raciocínio de alguns moradores de favelas em Bangkok, New Orleans, Vigário Geral ou Caracas. Esses homens começaram a tocar punheta, sim, a se masturbar, na intenção de que seus espermatozoides pudessem flutuar e eventualmente se esconder em algum útero.

Maricá, 07/07/2013

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 07/07/2013
Reeditado em 07/07/2013
Código do texto: T4375799
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