O consolo

O consolo

Se, de repente, você descobrisse que nada existe depois da morte e que toda a sua vida se resume nesse curto período de existência, que propósito teria a vida? A resposta colocaria esse homem como um ser, apenas, e faria da existência algo mais humano e com uma finalidade.

O homem buscou ampliar a sua existência inventando mundos além para viver uma eternidade regozijando. A vida humana é ínfima e sua existência terrena, para o próprio, não é suficiente; é a fraqueza e o medo humano. Sabendo disso, o homem necessitou crescer diante das coisas e determinou sua além-vida para estabelecer o domínio sobre as leis naturais e a imensidão do cosmos.

As religiões confortam a humanidade com promessas de alongamento do tempo, mas, como apenas uma vida pode credenciar o homem a ser eterno? Como algumas reencarnações farão desse ser um agraciado com a eternidade.

Outra pergunta. Se há vida após e uma eternidade, por que então a rápida passagem por essa existência? Ouvirei que, aqui, é uma expiação, aprendizagem; explicações das mais diversas e convincentes, por que não? A aceitação dessa eternidade dar-se-á com uma existência condicionada e com regras que servirão para dominar o animal humano. O homem só entenderá a sua passagem, quando perceber que a vida, nada mais é que um acidente e que ele é determinista e não determinado. A vida está a mercê humana e a morte à sua servidão; o homem é o senhor e não o servo. Libertar-se da vida após vida fará dessa vida um objetivo concreto e, não, uma espera para viver uma vida após.

A eternidade é para os tolos e covardes de vida, que precisam de mais tempo para entender o propósito de uma existência. A liberdade encontra-se no fim e não na extensão. Caso a eternidade seja a graça alcançada, todos seriam escravos das regras divinas e do determinismo das vontades do criador. Esse criador inventou a pilhéria do livre-arbítrio e condenou a humanidade ao pecado. Os olhos arregalados desse divino vigiam atos e pensamentos e o homem aceita, passivamente, as imposições de sua criatura – deus.

Está tudo explicado, todavia, os véus da covardia fecham os olhos da humanidade; o medo do fim faz o homem querer, sempre, o consolo da eternidade. Esse ser que pensa e existe e que é racional é um covarde e vilipendia a existência com metáforas e arranjos. O fim seria a plena libertação do homem, no qual, toda a completude deveria acontecer em vida e a finalidade da existência seria, enfim, encontrada. As coisas começariam a ter um objetivo, nada ficaria incompleto e a humanidade determinaria vida e morte. Libertar-se da eternidade fabricada é romper com todas as vozes ecoadas; é implodir e reconstruir novos paradigmas; é retirar, em vida, da cruz o Messias. Os cravos e chicotes que mudaram o mundo são os mesmos que cegaram a humanidade. A eternidade passou a ser um consolo, logo, o homem se acomoda e se conforta com tal refúgio.

Há algo que não se encaixa nessa fraqueza humana. O que é o aqui? Para quê a vida eterna? Uma breve existência qualifica o homem para a eternidade? Breves retornos, aprendizados à base de chantagens – o pecado é uma chantagem divina - e o tempo se eternizará no além? A existência não é uma simples passagem e, tampouco, um aprendizado; tudo é livre quando encontra o seu próprio fim.

Mário Paternostro