GÊNIO ESCRITOR
Perguntou-me, o insolene do Segonha, depois do sagrado futebol de terça-feira, suados e expelindo um horrendo odor fétido, aqueles em que só homens futebolísticos natos exalam, o que eu faria se não fosse um enfermeiro. Impetuosa pergunta! Todos conhecem minha paixão pela medicina, caso não fosse enfermeiro, pelo clinicar, prescrever, diagnosticar.
Passado um tempo, pensei, repensei, reciocinei. Por quatro segundos. Apenas quatro segundos! Abrupto e indevidamente irresponsável respondi:
- Queria ser como o David Coimbra.
Minha cabeça logo rodou. Senti a mesma dor do cotovelaço na nuca que tomei do Cebola à 15 minutos atrás. Estremeci, fiquei pálido, logo cianosei. Fechei os olhos e veio uivar.
- Aiiiiiiii.... Uiiiiiuiii....
-Nossa !!! hahahaha...
Todos riram. Todos! Os vinte e três barbados e abomináveis pernas de pau. Até o Fabinho, o tímido Fabinho, ao qual nunca tinha ouvido-lhe a voz, gargalhava imprudentemente.
- Para com isso!
- Ser como o David! Qual é? hahahaha
No momento não soube o que responder, apenas ri. Cabisbaixo, envergonhado, triste.
Não compreenderam minha resposta, aliás, agora penso que até me expressei mal. Queria escrever como David Coibra. Queria possuir a intelecção e a intelectualidade de David Coimbra. Não entenderam. Não me entenderão.
Nunca, nenhum deles, terá o prazer de numa quarta-feira abrir o jornal Zero Hora para aproveitar e esbanjar a coluna de David Coimbra.
Célebre escritor! Célebre cronista.