UMA FRANCESA CONHECENDO O BRASIL
. Eu estava curiosa para conhecer o Brasil, seus hábitos, sua cultura e, sobretudo, constatar a diferença entre viver na França, mais precisamente em Paris, e vegetar em um país pobre, atrasado, selvagem como imaginava que fosse o Brasil.
O País Tupiniquim encantou-me. Em seus mais de nove mil quilômetros possui. rios abundantes, florestas imensas, variadíssima flora e fauna, cidades modernas, parque industrial de primeiro mundo, e, sobretudo um povo hospitaleiro e simpático que recebe calorosamente todos que lá aportam, sejam eles turistas, congressistas, estudantes ou imigrantes.
O hotel ofereceu-nos quartos com banheiros privativos o que me pareceu um luxo excessivo para uma modesta cronista como eu. Logo porem descobri que isso não significava requinte, mas necessidade, pois, pasmem! Os brasileiros tomam banho todos os dias! É por isso que têm sempre um leve odor de sabonete e desodorante.
A camareira todas as manhãs me cumprimentava exibindo as poucas palavras francesas que conhecia, evidentemente querendo agradar:
- Bom jour madame!
E o motorista oferecia:
-Leus ordre, madame!
Eu tentava: “bom dia” “bom tarde” “bom noite”, “obrigada”, mas, muitas vezes, confundia tudo. A língua portuguesa, embora tenha a mesma raiz latina da francesa e algumas semelhanças, me pareceu muito difícil.
No café da manhã foi oferecido alem do café, leite, frutas, frios, queijos. Avistei uma bandeja com croissants e fui avidamente me servir, pois embora o diferente nos atraia são os nossos hábitos enraizados que acabam falando mais alto.
Mas o croissant brasileiro tem do francês apenas um nome parecido, não deu para matar a saudade, mas foi interessante conhecer. Também as frutas me surpreenderam, algumas agradavelmente, outras, nem tanto.
Olhei um tanto desconfiada para o tabuleiro de uma baiana em Salvador. O acarajé me pareceu atraente. Eu tinha que experimentar. Como é que podia chegar em Paris dizendo que não conhecia os pratos típicos da Baia, a referência gastronômica do Brasil?
Não entendi muito bem o que a baiana me dizia, mas pareceu-me que perguntava se eu queria o bolinho quente e respondi afirmativamente.
A primeira e única mordida queimou-me a boca como se estivesse ingerindo brasas vivas e aprendi que “quente” queria dizer “apimentado”.
Mas os doces compensaram o vexame. As cocadas, o curau, o mangunzá são deliciosos. Detonaram a minha dieta, mas valeu a pena.
No Sul admirei a porção de carne assada que era servida. Saborosa, mas cada bife daria para no mínimo três pessoas. A fartura na alimentação do brasileiro é inacreditável!
E a música então? Ritmos alegres e variados, evidenciando a graça do país cosmopolita estavam sempre presentes como um fundo permanente e acariciante.
Não estávamos ns época do carnaval o que foi uma pena, pois me privei de conhecer a festa popular mais animada do mundo, mas o samba estava por toda parte e havia uma ginga natural em cada brasileiro como se o enlevo do carnaval lhe permanecesse na alma o ano todo.
Envolveu-me também a magia do futebol, o melhor do mundo, o que mais títulos conquistou. Imaginei que o brasileiro podia ignorar o nome do prefeito da sua cidade, mas sabia o nome de todos os jogadores do seu time, titulares ou reservas. Quem sabe, um dia, sua preferência futebolística constará de sua identidade: Fulano de Tal, são paulino... ou fluminence... ou cruzeirista?
Enfim, o Brasil fascinou-me! Quem me dera que um dia a França possa chegar-lhe aos pés!