A LENDA DO VELHO BARBEIRO
Abram alas para o faz-tudo, Figaro, O Barbeiro de Sevilha. Abram alas pela cidade. Abram alas! (...) Vamos à loja que já é madrugada. Ah, que bela vida, que belo prazer. Para um barbeiro de qualidade! (...) Ah, bravo Figaro! Bravo, Bravíssimo! Figaro, personagem da ópera do compositor italiano Gioachino Rossini, baseado na comédia do dramaturgo francês Pierre Beaumarchais, é o barbeiro mais famoso da história.
Um outro barbeiro de descendência italiana, filho de Jacomo e Josefina, nascido em 1900, em Santa Maria Madalena, Estado do Rio de Janeiro, foi Florêncio, meu avô. Viveu noventa e cinco anos, muitos deles, dedicados ao ofício de barbeiro.
Recordo as paredes da barbearia com algumas fotografias dos netos, todos usavam corte Príncipe Danilo. Esse corte era feito com máquina zero, deixando um topetinho ralo que não dava para pentear; depois fazia o pé da orelha dando a volta com uma navalha. Acho que era assim.
A profissão de barbeiro é muito antiga. Na Grécia, as imagens utópicas das divindades mitológicas assumiam um ideal de beleza e perfeição corporal, que necessitavam de um espaço exclusivo e adequado para o tratamento de beleza, incluindo o capilar. Surgiram assim os primeiros salões de beleza e a profissão de barbeiro.
As barbearias, na atualidade, quase não existem. Sucumbiram diante dos salões e dos aparelhos de barbear. Hoje em dia muitos homens preferem fazer a própria barba. Mas a perfeição e o capricho dos antigos barbeiros é incomparável.
Enfim, tive a felicidade de ter um virtuoso das tesouras e pentes como avô. Em sua modesta barbearia, no quintal da casa em Jacarepaguá, em frente à jabuticabeira, eu sentava na antiga cadeira e ouvia, como se fosse uma ópera regida pelo velho maestro, o som da tesoura assobiando em meus ouvidos.
Em câmera lenta, meus cabelos ainda voam pelo tempo e sinto, quase como uma lenda, o cheiro daqueles domingos de jogo de bicho, de Flamengo, das “negas” e da minha feliz infância. Bravo, Bravíssimo!