DOIS BRASIS

Prof. Antônio de Oliveira

antonioliveira2011@live.com

Existem dois Brasis, como Os dois Brasis de Jacques Lambert. Sobretudo antes da construção de Brasília, o Brasil do litoral e o Brasil do interior, este, como o interior de Os Sertões, de Euclides da Cunha. E tantos outros Brasis, como o Brasil de economia oficial e o Brasil de poderosa economia clandestina. Mas a dualidade que mais me chama a atenção é o Brasil dos políticos e o Brasil dos brasileiros. Para os nossos políticos, o Brasil caminha prosperamente, vai de vento em popa. Sim, exceções há, mas de políticos pouco expressivos, ou de políticos que não conseguem fazer ouvir a sua voz, pois logo abafada. Até parece que eles não veem reportagens na TV nem na internet, nem leem jornais. Pois, insensíveis, não dão notícia da vida do povo. Assistência precária à saúde, transporte ruim ou inexistente, obras inacabadas ou mal conservadas, educação insuficiente. Ou, se ouvem dizer alguma coisa, fazem ouvidos de mercador, fingindo que não ouvem, não respondem objetivamente ao que se lhes pergunta. Quando não respondem de forma autoritária, com evasivas e subterfúgios ideológicos. Enfim, não estão nem aí para a nossa realidade, pois a realidade que vivem é outra, principalmente em Brasília. Quedam-se, indiferentes, a fazer ouvidos moucos. Falta autocrítica. Mas, finalmente, a mobilização aí está, como nunca antes na história deste país. É o Brasil acordando de um sono profundo.

Brasília, então, se me afigura uma ilha da fantasia. Manuel Bandeira poetou: “Vou-me embora pra Pasárgada. Lá sou amigo do rei”. De lá reconhecem que a nossa tributação é escorchante, mas ninguém move uma palha em favor de uma reforma tributária decente. Para quem ganha muito, a expensas do erário, dinheiro do povo, isso pouca diferença faz. Mas, por muito menos, por um quinto, houve a Inconfidência Mineira, cujos heróis são cultuados. Heróis mortos. Homenagem é fácil de prestar. Por vezes homenagens caras. Com dinheiro do contribuinte.