Ivana
Queria namorar uma Ivana. Não somente pelo nome, bom de rima, que me propiciaria chamá-la de Ivana Banana, ou “Ivana, sua sacana, você me leva ao nirvana!”. Quem sabe se eu namorasse uma Ivana a sua atenção seria minha. Também seriam meus o seu coração, gestos de carinhos, afagos animadinhos e aquele surpreendente jeito de nunca dizer não. Já vejo-a como uma engenheira de sucesso, calculando estruturas e visitando canteiros; lindamente naqueles capacetes de obras. Ao findar do dia jantaríamos juntinhos. E lá pela noitinha, já com minhas meias de inverno, nos esquentaríamos bem pertinho na melhor forma de amar.
Se eu namorasse uma Ivana provavelmente não sofreria por amor, tenho certeza. As Ivanas não causam sofrimento aos corações. Os sentimentos lhe são sagrados e a sinceridade um bem conquistado difícil de entregar. Por falar em sinceridade, essa também não nos faltaria: conversaríamos sobre tudo, sendo francos um com o outro. Depositaria minha confiança e a minha felicidade para a Vivinha administrar. Dizer a senha do banco seria fichinha. Ah, se eu namorasse uma Ivana e a tivesse para a minha rotina gerenciar. Futebol nos fins de semana, academia duas horas por dia, não esquecer o ômega três, a conta de luz vencendo segunda-feira e a torneira da cozinha precisando de reparo.
Minhas noites de sábado, se eu namorasse uma Ivana, seriam mais animadas. Talvez hoje beirem à solidão. Teatro, cinema televisão. Um pulo no pub, uma esticada para dançar. Aquele novo restaurante que inaugurou recentemente e eu teria companhia para o concerto de novembro. Para mim, até o circo teria mais graça com ela. E olha que não gosto de circo nem curto palhaços. Um parquinho nas festas de fim de ano para relembrarmos a infância: nós dois no bate-bate, na roda gigante ou vendo a Monga se transformar. Planejo minhas férias agora, em cada lugar mais incrível. Mas sem Ivana não consigo me empolgar. Os Lençóis Maranhenses, a Chapada Diamantina ou as Cataratas do Iguaçu, tudo isso sem ela fica sem graça e já fadado ao insucesso.
Então, como eu nunca namorei uma Ivana, talvez tudo não passe de carência. Nunca nem me apaixonei por uma Ivana, não imagino a sensação. Digo isso antes que se perguntem por que de tamanha obsessão. Provavelmente se seu me apaixonasse por uma Ivana não estaria aqui, agora, reclamando de ingratidão. Decepção, indiferença, fraqueza, amargura. Desilusão. Por não vermos as pedras no meio do caminho e sofrermos por aquela tal de paixão. E depois de se perguntar tanto por que?! É deixar de tentar entender o que não se pode entender, o que se deve esquecer e ficar naquela conversinha de nunca deixar de tentar. Mas se eu estivesse aqui com minha Ivana vocês veriam o que é felicidade: beijar sobre a chuva de verão. Ver o sorriso sincero dela, vê-la corresponder nossa atenção. Saber o momento de agir, de recuar e de deixar para lá. Empolgar-se com as paixões que nos empolgam e permitir metamorfosearem-se em amor.
Mas eu não namoro nenhuma Ivana. Aliás, acho que só conheci rapidamente uma Ivana em toda minha vida. Nunca foi paixão platônica nem deixei atônita. Não ficamos sobre o luar nem planejamos uma viagem à Barcelona. Foi uma Ivana sem chama. Aposto que é por isso que sigo aqui, por agora, sem saber o que fazer. Se eu namorasse uma Ivana, as flores de maio já teriam nascido.