CADA LETRA TEM O SEU PAPEL.
CADA LETRA TEM SEU PAPEL.
Que coisa maluca... imaginem...não, não, se imaginar vai acabar maluco também. A complexidade do funcionamento mecânico de determinados apetrechos para os mais diversos fins, torna-se lógico diante do papel que se propõe a desempenhar. Falando em papel, cito, por exemplo, uma maquina de escrever. Como podemos imaginar que um objeto tão invocado quanto este, tenha caído em desuso, e para sempre, migrado dos dedos das pessoas para a cabeça de quem tem mais de 25 anos. Se bem me lembro, é a cabeça que guarda a memoria que nos fás lembrar o que passou. Já observaram a haste que segura uma letra e muitas vezes também um sinal de pontuação? Aquilo tem um tipo de memória mecânica: quando a letra é impressa no papel, por uma fração de segundos, o momento da digitação já passou, ficou a memória. Em uma extremidade, e na outra também, existe uma letra e ou um sinal de pontuação correspondente do outro lado, só com uma diferença: o primeiro conjunto é completamente chapado, e o outro em alto relevo. Olha a imaginação de quem supôs que: passando por um eixo central, esta haste sendo pressionada no lado chapado, o lado em relevo vai exercer uma pressão no mesmo sentido da força imprimida. Sobre uma fita embebida em tinta, a menos de um milímetro do papel, o clichê vai “desenhar” perfeitamente, sem borrão, a letra desejada. É uma espécie de DNA, ou digital, único. Devido à disposição das muitas letras e sinais, perfeitamente distribuídos para facilitar a digitação, cada haste tem inclinações diferentes, tanto laterais como longitudinais e na altura, tornando cada uma delas uma peça, que só absolutamente ela, pode ocupar aquele lugar. Com um olhar mais detalhado, percebe-se uma perfeita simetria entre todas as hastes, formando uma linda composição metálica, observando-se quase uma meia circunferência. Existe uma distância exata entre o martelo (em repouso) e o papel, de modo que permite imprimir o caractere sem rasgar a fita e sem deixar falhas significativas no desenho da letra, ficando somente uma leve depressão no papel. Ao mesmo tempo em que se digita qualquer letra, com exceção dos sinais de pontuação, que neste caso o rolo do papel não se move, (muda até o barulho) outros mecanismos são acionados: 1º: O rolo de fita vagarosamente se desloca para um lado predeterminado pelo usuário, por meio de um botão deslizante, evitando assim o desgaste da tinta em um único ponto da fita. Genial. 2º O rolo que segura o papel, desliza da direita para a esquerda, exatamente com o espaço que ocupa uma letra, unindo uma a uma, formando a palavra. 3º Ao final da linha, mais precisamente faltando duas letras, toca uma sineta avisando que não tem mais espaço para continuar escrevendo, neste momento mais dois movimentos são executados: Através de uma alavanca empurrada da esquerda para a direita, o rolo de papel gira para cima precisamente a distancia de uma linha, retrocedendo para o início da folha na margem esquerda. Todas as hastes convergem para um único ponto bem no centro, impossibilitando a digitação de duas teclas simultânea, (lei de Newton) dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço. Há também à possibilidade de mudar a cor da tinta, mudando a altura da fita, que é dividida na horizontal em duas cores: vermelha e preta. Porém, há um detalhe de muita importância que, por mais avançada que esteja à tecnologia, não se consegue fazer em nenhum computador: A impressão em uma fração de segundo. É uma coisa quadrimensional: sente-se o cheiro da tinta, ouve-se o barulho das teclas, se vê a escrita e sente-se o volume deixado no verso do papel, tudo ao mesmo tempo, usando quase todos os sentidos. Cada letra tem o seu papel, é como um solista num concerto, cada uma se apresenta “solo” naquele momento, recebendo o valor merecido, tendo a atenção voltada só para si. A sensação de se escrever em um “robô” manual deste, é como a de um maestro conduzir uma orquestra, todos tem a mesma importância, uns com mais destaques, outros com menos, mas, se faltar uma nota/letra, fica o buraco. O fato é o seguinte, mesmo sem energia elétrica um texto escrito em uma maquina de datilografia tem uma energia muito forte, tem uma alma, tem a exata pressão imposta por quem digitou. Um deficiente visual não vai conseguir ler, ainda assim, se pegar o papel na mão, perceberá que tem algo escrito. Não posso negar as qualidades do equipamento que o substituiu, sobretudo na praticidade da correção, na precisão do alinhamento, nos tipos de letra e nas diversas outras funções que ele executa, mas, uma coisa eu posso afirmar com segurança, comparando as duas maquinas, proporcionalmente é muito maior a complexidade empregada neste equipamento que se destina apenas a uma solitária função: Escrever.
M. C. MEIRA. 03/07/2013