EMPRÉSTIMO DIVINO

Há questão de duas semanas, ouvi uma notícia que não me surpreendeu, mas me fez voltar bem longe no tempo. A notícia dava conta que dois funcionários (se de ofício religioso ou não, não entendi) de uma igreja estavam desviando o dinheiro do dízimo. Será que alguém ficou surpreso?

Eu ainda era criança (devia estar por volta dos dez anos) quando minha Mãe contou-me que um primo distante dela se encontrava em difícil situação financeira com sua pequena empresa de estofamentos a ponto de ir à bancarrota. Religioso que era, foi, a um santuário muito visitado no estado de São Paulo, pedir ajuda ao Padroeiro, pois no dia seguinte tinha que pagar algumas duplicatas já vencidas e estava a zero de caixa e até dinheiro emprestado pediu para o combustível. Mais dívidas. Era dia do Padroeiro e muitos fazendeiros iam ao santuário agradecer e deixar sua contribuição. A pequena cidade e até hoje é pequena, fervilhava de devotos que iam de caminhão, a cavalo, charrete, a pé etc. Alguns iam pagar promessas, outros iam pedir graças.

Esse parente nosso vestia-se com aprumo que se destacava num lugar onde a maioria dos visitantes era pobre. Ele deixou um mínimo de donativo no cesto e fez seu pedido fervoroso ao Padroeiro no sentido de solucionar o problema que ia enfrentar no dia seguinte. Eis que o padre vendo pessoa bem aparentada, pede-lhe um favor:

- O senhor poderia tomar conta do cesto para mim enquanto vou fazer uma necessidade fisiológica? É só por uns dez minutos.

- Pois não padre, pode ir.

No cesto havia alguns “contos de reis”. Ele vendo aquela dinheirama toda, olha para o Padroeiro e diz:

- Perdão, Senhor, pelo que vou fazer e peço também sua ajuda para que no ano que vem eu possa voltar e Lhe pagar com juros o “empréstimo” que faço agora.

E apoderou-se de alguns “contos de reis”, quantia suficiente para pagar as duplicatas, comprar estoques e uma máquina nova, pois a que tinha já estava velha e sempre dava manutenção que o atrasava e o fazia perder freguesia. Resumindo: Ele progrediu, começou a obter lucro e separava mensalmente a parcela do “empréstimo” divino.

No ano seguinte ele volta ao Santuário com a quantia subtraída no ano anterior e entrega a dinheirama ao padre que lhe diz:

- Parece que eu o conheço. Você não é...

Ele nem deixou o padre terminar e foi dizendo:

- Sim sou eu mesmo, padre, que no ano passado tomei conta da cesta para o senhor e o padroeiro atendeu ao meu pedido. Hoje eu estou devolvendo a quantia que tirei da cesta acrescida dos juros do mercado e mais a minha contribuição digna de minha posição hoje.

- Quer dizer que o senhor teve coragem de tirar o dinheiro que era para a Igreja? Bem que notei que a “féria” tinha sido abaixo da expectativa.

- Padre, eu vim aqui desesperado pedir ao Padroeiro que solucionasse o meu problema financeiro e eis que surge o senhor me pedindo aquele favor. Então achei que aquele já era o momento da graça. Quero confessar e comungar formalmente e receber a redenção do meu pecado.

Foram para o confessionário.

Será que os protagonistas da notícia também solicitaram um “empréstimo” divino?

Amigos do RL, escrevi esta crônica ouvindo um CD que montei com 228 músicas com alguns clássicos. No momento que comecei a revisar, entra Pavarotti cantando Mamma. Foi muita emoção, não sei se é coincidência, fiquei muito emocionado.

Santo Bronzato 03/07/2.013.

SANTO BRONZATO
Enviado por SANTO BRONZATO em 03/07/2013
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