UMA BOA METÁFORA
Uma boa metáfora da luta contra o ATO MÉDICO é a luta contra os vinte centavos. Vimos todos que a questão é imensamente maior, o buraco é mais embaixo. Não lutamos contra os médicos, eles são nossos colegas e companheiros, precisamos deles tanto quanto eles precisam de nós. Nossa luta é contra uma mentalidade reducionista, que se propõe a criar castas. Estas foram criadas desde que o mundo é mundo para dominar e impor. Seria a criação de uma elite. Pergunto-me, precisamos de elites onde quer que seja, e de uma no campo da saúde? O ATO MÉDICO viria decompor o que é necessário ser composto, e não decomposto. Fragmentar o campo da saúde adoeceria a todos, não apenas aos pacientes que nos procuram por seus sofrimentos, mas aos profissionais da saúde. O ATO MÉDICO se propõe na sua inconsciência a adoecer o campo da saúde. Precisamos ser conscientes e reflexivos.
Os profissionais de saúde necessitam de ampla formação para criar uma base boa e sólida a começar na infância mais tenra, dentro de casa, desde os primeiros anos escolares e em toda a escola, na universidade, e ao longo da vida. Caso os brasileiros tenham boa formação, cotas nas universidades seriam obsoletas, pois disputa pela inclusão se daria por méritos pessoais. Não podemos pensar que isso é utopia. Precisamos, ao contrário, começar a luta hoje, para que nossos descendentes possam se criar assim. Na educação e saúde o Brasil precisa ser primeiro mundo. O SUS deve oferecer tratamento de qualidade a todos. E precisa de toda a gama de profissionais da saúde: nutricionistas, fisioterapeutas, odontólogos, fonoaudiólogos, psicólogos, psicanalistas, médicos, e outros aqui não citados. Precisamos trabalhar em equipe, saber que um não é melhor do que o outro; respeitar e reconhecer as diferenças, e que temos cada um a dar e a receber. E principalmente, uma longa luta, longo percurso pela frente.
Mais que profissões os que trabalham com a saúde têm ofícios. Atendemos pessoas que sofrem, precisamos de uma ética impecável, de uma preocupação amorosa e dedicada. Cada um de nós precisa de humildade para se colocar no lugar do que sofre e nos procura, estamos ali para atender, e as fronteiras que separam cada profissional da saúde de seus pacientes é tênue e delicada. Precisamos da humildade para reconhecer que também somos pacientes. Precisamos entrar em contato com nossas angústias e sofrimentos, o que por sua vez permite não nos defendermos das angústias e sofrimentos do paciente, e ao contrário nos reconhecer humanos e precários. A nossa força está nesse reconhecimento. A arrogância é uma defesa. Os médicos têm muito a receber, assim como nós que lutamos contra o ATO MÉDICO.