Tatuagem

É engraçado que a essa altura do campeonato, com 36 anos, eu ainda tenha que prestar contas das minhas tatuagens. Mas acontece. E todo o tempo.

Seria de se pensar que já fosse coisa tão banal, que a maioria das pessoas nem liga mais. Mas é impressionante como ainda incomoda muita gente.

Tatuagens provocam reaçõe...s extremas – ou as pessoas adoram, ou detestam. Poucos são os que ficam indiferentes a elas. Então, eu ainda tenho que ouvir as frases idiotas :”você está rabiscada” (rááááá´... super espirituoso. A pessoa se incomoda, e não aguenta, tem que fazer uma crítica velada, nem que seja em forma de piada).

Longe de mim fazer apologia à tatuagem. Muito pelo contrário: eu acho que nem metade das pessoas que faz, deveria fazer. Pois faz pelos motivos errados. Não é pra qualquer um. Mas cada um é quem sabe.

A questão aqui não é nem a tattoo, a questão é – por que fazer QUALQUER coisa diferente com seu corpo?

Muitos gostam de piercings, tattoo e até coisas simples como pintar o cabelo de azul, ou raspar a cabeça.

Minha resposta à pergunta é: faço porque POSSO.

Porque este corpo me pertence. Faço porque sou livre. Faço pra expressar minha individualidade. Faço por uma questão de estética. Mas, mais que tudo, faço porque é minha chance de escolher minhas marcas.

Não pude escolher com qual cor de cabelo nascer. Quais sinais teria. Nem quantas celulites ou cicatrizes. Essas marcas são minhas. Minhas escolhas. Meus sinais.

Por isso que digo que não é pra qualquer um, embora muitos façam por fazer, pq acham bonitinho. Faz sem certeza, e se arrepende.

“Quero, mas não tenho coragem” – não faça.

“Quero, mas tenho medo de me arrepender” – não faça.

“Quero, mas tenho dúvida sobre o que fazer” – não faça.

O ato da tatuagem transcende o desenho. Transcende o modismo. Arrependimento é uma coisa que nem passa pela cabeça. Não pode passar, ou há algo errado, pra começo de conversa. Medo de enjoar também. Acho que temos que ser donos do próprio corpo até para dizer “não gosto; não quero violá-lo com nenhum desenho“. E tudo bem. Também é uma escolha válida.

Nossa relação com nosso corpo, tatuagem, é muito particular: alguns gostam que sejam notadas e gostam de falar sobre, explicar significados; outros acham que é tudo muito pessoal. Eu sou do primeiro grupo. Adoro a história sobre mim que cada uma conta, mesmo a mais velhinha. Cada uma é um marco da minha trajetória.

Preconceito? Sempre vai existir.

Pergunte a um cara que fechou o braço por completo, o que ele acha de uma pessoa que tem "O Pequeno Príncipe" nas costas. Pergunte a uma mulher que tem um dragão na perna, o que ela acha de uma outra que tem uma tattoo no cóccix. Todos terão uma opinião. É sempre assim.

Bobagem, mas existe.

Quem tem tattoos grandes acha que quem faz tatuzinha de fada, borboleta,anjo, flor etc., na verdade só quer se fazer de descolado. Então faz um desenho bobinho e que quase não aparece, só pra ficar na modinha. É engraçado, mas rola.

Assim como quem tem tattoo nos braços e pernas (que não tem muito como esconder), acha que aquela tattoo de cóccix, que falei, se chama “selo de puta” (só vagaba, que gosta de chamar atenção e dar de 4, teria). Outra bobagem.

Porque afinal, cada marca tem um significado especial para quem a escolheu, independente do que qualquer outro achar.

Então, quando você vir alguém “marcado” (seja por tattoo, seja por qualquer outra coisa que o distingua fisicamente dos outros), encare diferente. Leia sua história. Ela está ali, ao vivo e em cores, em seu corpo, exposta ao mundo como uma declaração de amor a si mesmo.

Sou tatuada, sim senhor! Amo ser tatuada!

E isso é super!

Cris Souza Pereira
Enviado por Cris Souza Pereira em 02/07/2013
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