PROTESTOS EM TODO O BRASIL: UM GRITO DE INDIGNAÇÃO ROMPE AS BARREIRAS DO SILÊNCIO

Neste mês de junho (2013), temos presenciado por todo o Brasil, manifestações populares. É o grito de insatisfação e desabafo preso na garganta desde 1992, quando do impeachment do então presidente Fernando Collor. Grito de um povo que não suporta mais se calar ante às arbitrariedades de uma elite de ditadores que se apropriaram do Brasil, na condição de senhores absolutos de seu destino, aumentando descarada e desenfreadamente seus salários, impostos e etc., fadando-nos a uma condição sub-humana e ao completo descaso.

Não dá mais pra se calar ante os gastos absurdos da copa do mundo. Bilhões de reais gastos para a construção de estádios que, após a competição, muitos se tornarão elefantes brancos, completamente abandonados pelo poder público.

Não sou contra a copa do mundo. Aprecio o futebol arte (Não vou negar que inclino-me mais para o do tempo de Zico, Nunes, Andrade, Romário, quando se jogava de fato por amor à camisa), mas repugno atenção totalitária a esse setor, quando se poderia construir milhares de casas populares, a fim de propiciar uma vida mais digna para aqueles que anseiam por livrarem-se do aluguel.

O povo cansou de ser passivo, de dizer “tudo bem”, “um dia vai melhorar”, “uma andorinha só não faz verão” e, “não adianta protestar”. O brasileiro se indignou com as atrocidades impostas por seus governantes. Um povo passivo dá margem a uma corrupção ativa, e é o que temos visto no Brasil, com um Antônio Pallocci quadruplicando seus bens em tão pouco tempo e simplesmente não dando em nada. Portanto, está mais que na hora de deixar o passivismo de lado e ecoar o brado de independência tão desejado pelas classes menos favorecidas.

Lembro-me que certa manhã, no início do primeiro mandato do ex-presidente Lula, li no jornal a seguinte notícia: “Enquanto os brasileiros dormiam, os deputados aumentavam seus salários”. Essa notícia estarreceu-me e fiquei a pensar se haveria algum tipo de represália popular, porém, os dias se passaram e nada aconteceu. O espírito questionador e revolucionário, marca indelével do brasileiro, esvaiu-se e perdeu-se no tempo e nas entranhas do conformismo.

O silêncio prevaleceu e o Brasil perdeu sua identidade.

Uma ditadura camuflada tomou conta do cenário político e o povo, durante vinte e dois anos, tornou-se marionete, sem esboçar qualquer tipo de reação. Agora, porém, despertos de seu sono indolente, decidiu sair às ruas do Rio de Janeiro, de São Paulo, Belo Horizonte, Vitória, Curitiba, Brasília, Porto Alegre, Alagoas, Belém, Salvador, Fortaleza, etc., além de cidades do interior e Nova York, São Francisco, Chicago e Boston, nos Estados Unidos, e declarar que a hora da mudança chegou, que o Brasil ou muda ou se afunda de uma vez por todas.

É claro que o estopim que desencadeou dantesca revolta, foi o aumento das passagens de ônibus, porém o descontentamento popular vai além de centavos de real; é, antes de tudo, uma implosão de injustiças sofridas no decorrer do tempo, por conta da corrupção no governo, da falta de leis mais rígidas para punir os corruptos e criminosos, da desigualdade social e da necessidade de investimento na saúde e na educação.

Concordo em grau, número e gênero com tal manifestação, porém discordo veementemente de uma pequena parcela de desordeiros que agem com atos de vandalismo, depredando e saqueando lojas, agências bancárias, prédios e transportes públicos. Também discordo das inúmeras atitudes das polícias militares que, em algumas ocasiões, acirraram os ânimos e instigaram os manifestantes a uma violência generalizada, quando tentaram dispersá-los com truculência, à base de gás de pimenta, bala de borracha e tantos outros artifícios.

Os manifestantes que se excederam em atos de vandalismos, não representam a causa da grande maioria que prima por mudança, de forma pacífica.

Penso que o indivíduo pode exercer sua cidadania com ordem, afinal, não há progresso sem ela, como também é impossível haver ordem diante de atitudes violentas por parte das autoridades competentes (a história nos ensina isso, nos atos da ditadura militar de 64, quando o povo, afugentado pela violência desmedida dos militares, revidou à altura). Não vivemos numa ditadura, pelo menos, não oficialmente, vivemos numa democracia.

Vandalismo é algo repugnante que fere os princípios morais e éticos; é um ato de violência e completamente inaceitável. A pergunta que me faço é: violência também não seria a forma pela qual o povo brasileiro tem sido tratado, quando, de maneira desumana, sobrevive com um salário de miséria, uma saúde precária que não funciona e uma educação pública que foi fadada e colocada em segundo plano?

O fato é que o povo brasileiro saiu do casulo de seu conformismo que se estendia por duas décadas, e finalmente reapareceu.

Com frases do tipo: “Vamos acordar, Brasil”, “O povo acordou”, “Afasta de mim esse cale-se”, “Não aceitamos os gastos exorbitantes da copa do mundo”, “Era um país muito engraçado. Não havia escola, não havia nada”, e tantas outras, o brasileiro começa a reescrever sua história, na esperança de que uma república nova seja reinventada, e o Brasil possa ser de fato um país de todos, não como mera utopia de vãs falácias, mas encarnado em atitudes que priorizem as classes menos favorecidas e lhes dê o mínimo de dignidade, no que diz respeito a um salário justo, moradia decente, saúde e educação pública que funcionem.

O espírito revolucionário brasileiro voltou, e com ele, um novo Brasil se apresenta, pedindo passagem.

O gigante adormecido acordou!

Seja bem-vindo, Brasil!!!

ROGÉRIO RAMOS
Enviado por ROGÉRIO RAMOS em 02/07/2013
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