O escuro do futuro

Quando comparamos a sociedade brasileira com a dos países desenvolvidos (não só economicamente), temos a impressão de que jamais alcançaremos aquele nível de desenvolvimento. Coincidentemente, num olhar mais atento, o que se percebe é que as diferenças estão na educação, na civilidade; que tudo mais: respeito às leis, (que não são casuísticas / oportunistas), saúde, transporte, segurança etc. é resultado irresistível das práticas educacionais implantadas há muito tempo. Por mais sangrenta que possa ter sido a história desses povos, hoje desfrutam de um modo de vida que, comparada com o nosso, está a milhões de quilômetros de nossas mãos.

Há quem diga que foi justamente esse passado violento que pavimentou com sangue a estrada que eles percorreram até aqui, coisa que ainda duvido, talvez porque me assusta ter que admitir que somente através de conflitos e guerras nós chegaríamos a aqueles padrões de desenvolvimento. Quando observamos quais os “produtos” que importamos desses lugares notamos que os importadores os trouxeram exclusivamente para o seu benefício em detrimento dos outros. Que quem tem a oportunidade de ter contato com as soluções estrangeiras para problemas medievais que ainda temos não se interessam por isso se não lhes trouxer lucro imediato ou prazeres exclusivos. Os empresários importam gestões lucrativas (sem as contrapartidas compensatórias); nossos políticos usufruem das pompas e circunstâncias, mas mantêm as visões desassociadas da realidade sobre a qual voltarão a sobrevoar em seus deslocamentos tupiniquins. Em outras palavras, essa mentalidade extremamente tacanha está definitivamente arraigada na nossa elite social. Deixar a responsabilidade de mudar os rumos do país de forma direta nas cabeças “mal educadas” das ruas é, no mínimo, azeitar a arma que atirará no seu pé. Como não haver um plano de desenvolvimento que não seja absolutamente voltado para a educação? Como não copiar dispositivos comprovadamente eficientes de controle da coisa pública? Como não perceber que as causas pessoais só permanecerão como única prioridade enquanto não surgirem revoltas sem o civilizado filtro da civilidade? Que do seio ou dos movimentos das massas podem surgir déspotas e políticos cínicos e oportunistas, estes últimos, que sempre puderam e nunca fizeram?