O estudo da fé

O estudo da fé

Para entender a fé, é preciso saber como ela se comporta no homem e em cada época. Percebe-se que ela não tem uma definição própria e que muda seu comportamento de acordo com as necessidades da época.

O homem sempre precisou crer em alguma coisa; tal necessidade mostra a fragilidade humana ante a sua existência. Sem entender como o mecanismo da vida funciona e buscando conformação; o homem viveu /vive se satisfazendo com a objetividade e a superficialidade das explicações que a fé oferece.

O homem precisa de algo para colocar suas fraquezas e medos, crescer ante a imensidão do universo e provar, para ele mesmo, que é importante para a cadeia da existência.

Quando o homem se viu ante os mistérios do mundo e percebeu sua ignorância referente à criação e a sua existência; sentiu a terrível necessidade de inventar deuses e uma fé. As respostas eram encontradas em mitos e deuses frágeis que correspondiam, apenas, as dúvidas existentes em sua época. A fé fabricou mitos e deuses para que, os mesmos, explicassem e respondessem, a contento, as perguntas que circundavam em torno do desconhecido; fenômenos da natureza, principalmente. A fé explicava os mistérios e acalmava os receios e medos do homem, daquela época. Todos os deuses criados foram fabricados pela necessidade da fé. Assim, deu-se o nascimento da dependência humana e da sua confirmação de incapacidade de entender o desconhecido.

A mesma fé que nasceu para explicar e conformar, também nasceu para determinar e criar a “verdade”. Primeiro, o homem precisava crer para entender, depois ele creu para se salvar. A época mudou e a fé acompanhou as mudanças. Com a razão estreitada e um deus mais forte e temido, nasceram medos e inseguranças, filhos de um período em que o homem inventou seus infernos e demônios e aprisionou sua coerência. O Deus, agora, era único e determinista, com explicações e soluções para o homem escravo de sua própria fé. Esse Deus onisciente obedeceu com rigor às razões de sua divindade e, sendo assim, era a resposta única para todas as perguntas. Quem buscasse no livro da razão terrena explicações para fatos e atos, logo, era rechaçado e pagava com o soldo da fogueira da heresia. O homem, dessa época, fortaleceu um Deus através da sua fé e direcionou a sua vida para um único caminho – a salvação. A fé foi reafirmada sobre medos e promessas de vida além. A vida terrena passou a ser uma expiação e tudo deveria obedecer aos desmandos da própria “invencionice” humana. A escuridão durou milênios e quem pensa que a luz da libertação foi acesa, engana-se. As trevas ainda fazem o homem tropeçar em próteses e alentos que ele mesmo fabricou. O inferno em que vive a humanidade foi criado por um Deus que foi gerado por uma fé fabricada. Esse ser, onipresente, julgava e condenava tudo que desviasse de sua autoridade divina, dessa maneira, os olhos arregalados do ditador da vida alimentava a fé com regras, cuja vida estava marcada para sempre com o pecado. O homem passou a ser vigiado por ele mesmo e confessar os atos que, o próprio, julgava como pecado. Esse termo – pecado – vilipendia a liberdade humana e faz com que tudo se torne algo a ser julgado. A moral humana é modificada com o advento do pecado; é o homem vigiando, de perto e com rigor, os seus próprios atos. A fé está mais fortalecida na época do medo e da salvação.

Com a vida mais livre e os pensamentos mais expandidos, novamente, a fé precisou se adaptar para coexistir com as novas incertezas da época. O mundo cresceu e fabricou sonhos, desejos de consumo e; uma fé conformada e abnegada, logo, seria excluída de um mercado capitalista. A fé fabricou novamente deuses, com vários caminhos a seguir e várias interpretações. As religiões se multiplicaram e a fé se deturpou para cada uma delas. As certezas já não são as mesmas, os objetivos também, e a briga agora é com a moeda de César. A fé, de outrora, arrebanhava almas, – é fato que a igreja – medieval - arrecadou fortunas, mas o objetivo explicado ao homem era a salvação; mesmo que por medo ou conformação – mas a atual necessita de corpos para que trabalhem para alimentar o mercado da fé e realize os sonhos consumistas dessa nova alma. A atualidade trouxe, novamente, o panteísmo, no qual, cada igreja tem o seu deus e os seus fundamentos; a fé é fragmentada na busca da aceitação desse novo rebanho atual. A moeda que o Cristo mandou dar a César é a mesma que o homem, hoje, oferece a Deus. E de repente, a fé ofereceu e agora quer de volta a moeda que o Cristo explicou – dê a César o que é de César e a Deus Pai o que é de Deus Pai.

Como entender uma fé que muda, de acordo, com os anseios de cada época e explicar os eternos medos e fraquezas humanas, sempre, renovados? A humanidade necessitou de deuses, Deus e, novamente, de deuses; é o mistério da existência se renovando e as explicações dadas a partir das mais simples respostas – Deus/es. O caminho, a verdade e a vida foram dados para que todos se conformem e busquem o paraíso no desconhecido mais explicado e esqueça que se aprisionou em uma fé baseada no medo, fraqueza, incapacidade, e tudo que faz/fez do homem algo aquém e não além.

... e a fé, em todas as épocas, é um conjunto de deficiências que o homem tem e busca nela a criação e a crença em um alento e um consolo.

Mário Paternostro