Os Folguedos e a Monarquia
Os Folguedos e a Monarquia
Terminou o Encontro de Folguedos em Cocal. Foi uma bela festa, com suas cores, luzes, danças e comidas típicas. O cenário é na mesma praça, com as mesmas bandas; o mesmo ritmo. A tradição continua. O que melhorou foi as barracas de apoio que alimentam os foliões. As bandeiras ficaram maiores, assim, como a equipe de professores, que sustentam a árdua missão de mostrar serviço nas noites de luar, no arraiá de uma nova administração. Tudo pago pela prefeitura, nada mais justo! A velha política do pão e circo. O que piorou foi o retorno das barracas de palhas, feias como sempre, sem estética. Apesar de tê-las optado nos últimos anos, por barracas padronizadas. Mas não estou criticando, pois durante vários anos elas eram construídas exatamente daquela forma. E o banheiro, heim! o mesmo mal cheiro que se dissipava meio ao ar esfumaçado das frituras. Era o velho banheiro, tão criticado, imponente e desafiador. Novamente não estou criticando, pois durante anos, este é o lugar, onde os foliões despejam seus resíduos alcóolico e já se acostumaram com o cheiro, que traz uma certa saudade melancólica das festas que virão. Dos festejos!. Fui a praça por que gostaria de ver algo novo. Durante vários anos , não tive oportunidade de assisti-las ,mas no papel de organizador, eu era o alfa e o ômega do espetáculo. Cansei de ver as mesmas quadrilhas, com os mesmos nomes, e ouvir o tha,tha,tha do grande animador, Louro Cabrera, baluastre dos folguedos, nas mesmas palavras de sublimação aos grandes líderes do lugar. Falando em grandes líderes ,este ano, foi montado um patamar, de madeira, recoberto com uma ornamentação intocável, bem de frente ao público; e como historiador, me fez lembrar das cortes monárquicas europeias, onde a elite representativa da plebe, ostentava, saborosamente, a mais de um metro de altura, sentados sobre suas cadeiras, ornamentadas com luxo e rigor, às apresentações folclóricas. O bobo da corte fazia suas estripulias entre uma apresentação e outra. Os velhos inimigos do Rei, convidados para a festa, guardavam suas armas, até o próximo duelo, e assentavam se um ao lado do outro, nas melhores cadeiras, como se nunca tivessem se degladiado. Sem espadas e ofensas, apenas um sínico sorriso estupefado, no olhar descrente da plebe. Sendo servidos, atentamente, por um garçom, exclusivo do cerimonial. Saboreiavam o “cachimbo da paz”. Enquanto isto, a plebe se amontoavam, uns sobre os outros, sem nenhum conforto, tendo como limites, a corda na altura da cintura, e como algoz, a mesma velha guarda, que trocava,de vez em quando, as vestimentas reais. Imponentes e tão importantes para a segurança da plebe e da corte. O Rei, bajulado, sentado no centro, era toda atenção. Era cortejado, e nunca desprezado. Mas voltemos para o presente, pois estamos numa democracia representativa e somos todos iguais. Os fogos palpitavam nos céus com suas rajadas coloridas, enquanto os foliões dançavam o ritmo de Gonzagão. E os nossos representantes davam o ar da graça, com sua presença tão imponente, neste dia, em que o povo feliz vai a praça, e se tiver dinheiro no bolso, comerás e beberás nas barracas particulares que se espalham pelo perímetro. Tudo pelo amor a tradição. Não queremos discursos, nem comício, Deixa de conversa pois as QUADRILHAS é que animam as festas em Cocal “da Estação”.
Autoria: João Passos